sábado, 10 de maio de 2008

ITAMBÉ





O primeiro pouso: O Cine Teatro de Itambé-Ba
Pois bem, sem saber se era loucura ou não do Benigno, arrumamos os nossos caçuás, dobramos nosso estandarte, pegamos a imagem do santo Expedido (Padroeiro da Causas Impossíveis) e partimos em direção a Itambé para dar inicio a primeira jornada do projeto. A equipe se dividiu em dois itinerários distintos: eu e Benigno saindo de Vitória da Conquista e os outros membros saindo de Salvador.
Itambé é uma pequena cidade a 60 km de distância de Vitória da Conquista. É uma cidade acolhedora, apesar do sol causticante e uma diferença climática enorme de Vitória da Conquista. Eu e Benigno estávamos mais familiarizados com a cidade, primeiro por já conhecer de visitas anteriores e segundo por termos participado de um encontro pedagógico promovido pela Secretaria de Educação local dias antes da temporada, o que servira de divulgação para esta temporada.
Apesar de acolhedora, a cidade mostrou um absoluto despreparo para receber o espetáculo. Leia-se despreparo estrutural, porque em se tratando de calor humano e afetividade a cidade demonstrou estar absolutamente preparada.
Foi incrível a latente sensação de pertencimento dos moradores a nos confessarem felizes ao ver sendo anunciado na televisão (onde cotidianamente só assistem notícias da capital e de grandes metrópoles) que seriam contemplados com algo que notadamente não se vê todos os dias naquela região- as pessoas do interior são extremamente receptivas com o teatro que vem de fora.
Foi bom saber também que eles fazem cultura, precisam de cultura, e principalmente que também ali, tanto os que fazem quanto os que precisam de cultura precisam de uma maior atenção do poder público.
O Cine Teatro onde apresentamos o espetáculo era enorme. Porém, com uma infra-estrutura de auditório e notadamente precária. Não há equipamento de luz (nem ao menos as varas de iluminação), nem de som. É um prédio de arquitetura colonial extremamente jogado as traças, disfarçado somente pela criatividade dos artistas locais, a exemplo de Zizi Ferreira, representante do teatro na Prefeitura, que mesmo sem ter nenhum recurso disponibilizado pelo poder público, tenta manter aquele espaço contando com ajuda dos artistas e populares da região.
Eu e Benigno chegamos dia 28 de fevereiro, o restante da equipe que veio de Salvador chegou dia 29 de madrugada. Logo cedo nos dirigimos ao Cine Teatro para realizar a Oficina de Contrapartida com alguns artistas da cidade. Muitos deles, há muito tempo, vem construindo uma história de lutas pela valorização dos artistas por parte da prefeitura local, e realizando um trabalho de formação artístico-pedagógica essencial na cidade. Muitas crianças e jovens atores também participaram da oficina com olhares atentos a tudo e com a receptividade que só os que esperam por iniciativas iguais a deste projeto podem sentir.
Terminada a oficina prosseguimos com o nosso cronograma de atividades. Durante o dia, apesar de muito stress gerado pela tentativa de fazer o melhor com o mínimo, conseguimos montar o cenário, a luz e ainda fazer divulgação na rádio local e no “boca a boca”.
Fiquei responsável pela montagem e afinação da luz. Nessa missão, eu é quem tive que fazer outro milagre: “o da multiplicação dos refletores”. Esse episódio de nossa temporada se desenhou meio cômico e ao mesmo tempo dramático: O pé direito do Cine Teatro é bastante alto, e o técnico de luz enviado pela empresa que alugamos os refletores ao subir em uma escada (também muito antiga) se tremia de medo, apelando para todos os santos pra conservar a sua vida. Também fiquei com muito medo, pois tínhamos que pendurar duas varas com doze refletores pares no cano em que estava presa as cortinas do teatro, já que não havia nenhuma vara de iluminação.
Apesar de todo um malabarismo que tivemos que fazer, o espetáculo à noite foi bastante compensador. Às 20 horas, horário previsto pra começar, não havia quase ninguém as portas do teatro esperando o acesso. Esperamos um tempo, e para nossa grande surpresa, o público começa a chegar quando o espetáculo já havia se iniciado. Uma grande vitória a todos: casa cheia.
O público altamente participativo e educado. Era notável que o mesmo se identificou com o espetáculo, que, aliás, narra a história de um personagem como eles: sertanejos, catingueiros, do interior e sonhadores. As músicas encontravam coro na platéia a todo instante. E em mim, as respostas para todo o trabalho e stress da montagem eram mais que gratificante.
Terminado o espetáculo fizemos um rápido bate papo com a platéia e procuramos valorizar a iniciativa importantíssima da atriz e produtora local Zizi Ferreira que nos convidou e fez tudo o que estava ao seu alcance para que pudéssemos apresentar em sua cidade. Ao final de tudo estávamos muito cansados, e olha que era somente o primeiro dia de trabalho.

Um comentário:

Francisco André disse...

Não sabia que havia publicado, Marcelo!!

Arrasou! Acho de extrema necessidade publicar essas experiencias que, muitas vezes descritas caprichosamente por nós artistas,vão parar no arquivo morto da Fundação Cultural.

Temos que "dar a César o que é de César", dar ao povo o que é do povo. O povo precisa saber o que é feito com o seu dinheiro.