sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Memórias Vivas do Viladança em mim! Para Cristina Castro e Cia!


Material de Divulgação do Grupo. Foto:Márcio Lima
Algumas memórias são tão latentes e fortes para a fruição e formação em arte que ficam conosco para toda vida! Durante minha passagem pela Escola de Teatro na Ufba, no corre-corre entre idas e vindas para Conquista, nas labutas do Caçuá, algumas experiencias artísticas (não muitas) me marcaram em Salvador, uma delas, sem dúvidas, foi o trabalho de Cristina Castro e o Viladança.

Para continuar a leitura dessa postagem, click no link abaixo para ouvir a trilha para sua leitura, depois de ler o texto, volte e viaje nas imagens:

CO2- Foto- Márcio Lima
Sempre fui apaixonado pela dança! Nas disciplinas obrigatórias na Escola de Dança eu sempre tirava nota máxima e vivia dançando e falando de dança com meus colegas dançantes de licenciatura, Emanoel Nogueira, Gilson Garcia, Ramona Gayão... e os bailarinos e coreógrafos, Aroldo Fernandes, Renato Oliveira, Clênio Magalhães, Iara Cerqueira, Jai Bispo, Emanoel Magalhães, o His, o Dimenti... Desde Conquista, com as primeiras oficinas que fiz com o Grupo de Dança da Uesb, coordenado por Beto Lima, com Aroldo, Dila, Adriana, Chefinho e tantxs outrxs, às deliciosas aulas de Ciane Fernandes com Bartenieff Fundamentals, além de todos os Contatos e Improvisação que fiz com David, Fafá, Hugo... na Bahia ou em São Paulo, que sou consumidor, admirador e amante fiel dela! Meu trabalho de ator e professor é corporal e vem primeiro pelo corpo! Recentemente, trabalhei em São Paulo com a Cia Aruanã que unia a dança, o teatro e o circo juntos, literalmente debaixo de uma lona, numa possível dramaturgia na preparação dos jovens artistas e as suas inserções pelas Danças Urbanas, Dança Teatro e Contemporâneo, e na Fábricas de Cultura no Jaçanã, fazendo jogos e improvisações dançados e jogados com grandes e pequenos. Assim vivo de Dançar a Vida na minha Pequena História da Dança.

Hai Kai Baião - Foto: Márcio Lima

Tive o prazer de poder trabalhar com o Viladança e produzir uma temporada em Jequié e Conquista com o inesquecível trabalho: "Sagração da Vida Toda"! O Viladança tinha acabado de chegar de Berlim e Cris e Brachi me convidaram para tal labuta e assumi o desafio! Foi uma experiência marcante para mim!

Encontrei meu diário de bordo, sobre este trabalho, e outro texto sobre a fruição de "Ulisses", quando Cris dançou junto, e posto logo abaixo.

Para vocês, meus queridxs, muitas felicidades e arte sempre para nós! Que as memorias mostrem a importância de valorizamos quem sempre fez e faz! Num país de amnésias e modismos falar de nós se faz necessário!!Só a arte salva! Andemos!!
O Viladança e o Caçuá de Teatro nasceram no mesmo ano, em 1998! VIVA!!
PS: As fotos que ilustram essa postagem são de alguns trabalhos inesquecíveis dx Viladança!


Sagração da Vida Toda - Foto: Márcio Lima
           Viladança no Sudoeste Baiano: 
        Oportunidade e experiências únicas!
  
Diário de Produção, quarta-feira, dia 25 de agosto de 2004.
Jequié-BA

Estou indo para Conquista. 
O calor é infernal, dentro do ônibus da Viação Cidade Sol, saindo de Jequié para a cidade do cineasta conquistense.
A paisagem, vista da janela do ônibus, é tipicamente sertaneja e me faz relembrar minhas constantes viagens e memórias em busca de uma arte mais acessível e perto de todos.
Sonho, devaneio ou utopia?!
Desta vez, a viagem é para fazer a produção da Companhia Viladança, um dos grupos residentes do Teatro Vila Velha, em Salvador, que apresentará no Sudoeste Baiano, nas cidades de Jequié e Conquista, com Promoção do Governo do Estado da Bahia, Secretaria da Cultura e Turismo, Fundação Cultural do Estado e da Diretoria de Música e Artes Cênicas, dentro do Projeto Circuladô Cultural, que leva os artistas da capital, ao interior baiano.

Material para a Temporada em Conquista e Jequié

Quando Cristina Castro e o produtor do Viladança, Danillo Brachi, me convidaram para fazer a produção do espetáculo Sagração da Vida Toda, desta companhia, fiquei inicialmente temeroso, pois a responsabilidade é muito grande em assumir a produção de um grupo tão importante e engajado com a dança na Bahia, sem falar na alta qualidade e premiações dos seus trabalhos.

Como não tenho medo de desafios, resolvi encarar esse trabalho, principalmente, porque já conhecia um pouco da história da companhia, no Vila Velha, e a sua trajetória vitoriosa, comandada pela coreógrafa e dançarina Cristina Castro.

O grupo é muito conciso e tem a cara e os sonhos de Cristina. Desta vez, eles não estavam em Berlim, cruzando, numa encruzilhada, com Ciane Fernandes, mas na caatinga baiana onde muitos, desconhecem o significado real das artes cênicas ou da dança, por falta de incentivos, projetos e de artistas engajados com uma arte menos comercial e mais presente na vida das pessoas.


Caçadores de Cabeças- Foto:Márcio Lima
Jequié é uma cidade antagônica onde a política comanda todos os interesses. A Cidade-Sol, como é conhecida, tem o privilégio de ter o teatro mais bem equipado do interior baiano, embora falte luz para clarear o cemitério de refletores abandonados e público, para encher todas as dependências daquele teatro.

Mas isso não nos intimida!
Cristina e o grupo estiveram presentes em todos os momentos, acompanhando (e fazendo) de perto, a produção.
E lá vamos nós, com panfletos na mão e os sonhos na cabeça, indo em escolas, faculdades, rádios e praças, divulgando o espetáculo como verdadeiros artistas que ensinam e aprendem com a sua arte e experiência.
O grupo está muito maduro e se completa com as características de cada um. Todos têm uma identidade forte, diferente dos demais artistas da capital que conheço, que aproveitariam essa turnê, no interior, para fazerem suas exigências absurdas de divas emolduradas, consagradas pela mídia, crítica, amigos e pseudo artistas da capital.

200 e Poucos Megabytes de Memória - Foto: Vera Milliotti
Na verdade, absorvi muito da ideologia do Grupo, nesses dias todos juntos, parecida com a vocação do Caçuá de Teatro, grupo que coordeno em Conquista, que junto com o Viladança completam seis anos de labutas e dores pela arte.

Chego em Conquista e mais corre-corre! Ver mídia na tv, agendar entrevista, mandar a iluminação para Jequié, convocar o público para o momento do espetáculo. Aqui, estou mais tranquilo, é minha cidade e o Caçuá está me ajudando na produção, apesar do Centro de Cultura também não obter iluminação própria, cenotécnico ou pelos menos, um contra-regra para auxiliar as produções que vem de fora.

O Projeto Circuladô Cultural, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, é maravilhoso, entretanto, se os teatros do interior não forem profissionalizados, não adianta trazer as melhores atrações de fora, pois teremos muitos problemas pela frente. Outro dado relevante é a presença do Produtor local, que nesses casos, é fundamental e decisiva para o sucesso e proposta do Projeto. Se os artistas do interior não tiverem à frente destas produções, o teatro fica vazio, e o Projeto fracassa com a sua proposta.

Muvuca- Foto: João Meireles
E ainda dizem por ai que não existem artistas profissionais no interior, ou que eles não servem para nada!
Volto para Jequié.
Última apresentação nessa cidade. Ainda muito trabalho pela frente.
Fim do espetáculo. O público sai maravilhado com aquela sagração em cena. Muitos, nem imaginavam o que lhes esperavam, e a máscara da realidade dá vazão aos sonhos, a emoção, as lágrimas.

Saio correndo para recolher as fichas de avaliação do trabalho, respondidas pelo público. Sagração é o espetáculo do Vila que mais me toca. Paro, ainda respirando aquele ar e penso em mim, na minha arte e como ela tem contribuído e chegado ao público... 

E o Viladança não pára!
Hora de desarrumar o cenário de sonhos e encarar a estrada da vida. Serão 200 e muitos megabytes de memória nas cabeças da platéia. Caçadores de cabeças? Não, caçadores de sonhos, regados ao som de um Hai-kai Baião bem brasileiro! Nessa nossa Exposição Sumária, de artistas guerreiros, todo o nosso O2 e CO2, com Cinco sentidos e um pouco de miragem, estarão juntos, nessa busca de Ulisses incansáveis pela Sagração da Vida Toda, sem perder a força, os ideais,  e os sonhos.

Da Ponta da Língua à Ponta do Pé - Foto: Lígia Rizério

Em Conquista, as apresentações do Grupo, o público e workshops lotados, o encontro com os artistas da terra e colaboradores locais foi perfeito e inesquecível.
Certamente eles não esquecerão, por tão cedo, deste momento e do eco que vem da companhia.
Nem eu!

Parabéns Fundação Cultural!
Parabéns Cristina Castro!
Obrigado amigos e colaborados em Jequié e Conquista!
Valeu Viladança!

Outras Vilandanças virão e certamente, dividiremos os palcos da vida, para através da nossa arte, oferecer sonhos e possibilidades a todos, indistintamente, sem ser um ideal romântico e falso, mas real e transformador, que é a missão mais doce e difícil de artistas comprometidos com o seu público, com a sua arte e com o seu ideal.

Marcelo Benigno é ator, diretor do Grupo Caçuá de Teatro, em Conquista,  Licenciando em Teatro pela Ufba e produtor cultural de eventos que contribuem para a cultura e arte interioranas.


FRAGMENTOS DE POESIA URBANA, INSÓLITA E MODERNA
Ulisses e Cristina Castro (DANÇANDO!) juntos no Vila
José Ulisses da Silva - Foto: João Meirelles
A Cia Viladança reestreou o espetáculo José ULISSES da Silva na sexta-feira, dia 12 de agosto de 2005, no Teatro Vila Velha, em Salvador.
A reestreia tinha um gostinho a mais, pois a coreógrafa e coordenadora do grupo, Cristina Castro, estaria em cena dançando com a sua companhia, após um tempo só coreografando seus espetáculos. Não é preciso falar da força e beleza de Cristina em cena, que já esbanjava talento desde os tempos do Balé do TCA, do qual foi bailarina.
De lá para cá, os caminhos mudaram e já fazem sete anos de muitas conquistas, trabalho e contribuição da CiaViladança para a dança contemporânea na Bahia.


"Ulisses"- Foto: Juliana Protásio
ULISSES, se me permitem a intimidade, estreou no dia 12 de julho de 2002, no teatro Vila Velha, e se resume, ainda hoje, em muito mais que insólito, num conjunto harmonioso de aspectos positivos que compõem toda esta montagem.

Cristina consegue como coreógrafa, e agora como intérprete (criador X criatura), causar aquela sensação de bem estar na platéia. Muitos, como eu, ao sair do teatro, ficam inspirados e começam logo a reacreditar na vida, na poesia e em valores e sentimentos tão antigos e esquecidos por nós, sufocados pela massificação na nossa selva ou arena reais.

Em cena está toda a companhia, com a formação atual, com exceção do estreante João Rafael e da bailarina Maitê Soares, que já foi do Viladança e retorna para dançar ULISSES. O espetáculo impressiona pela pesquisa de movimento e dramaturgia, que aliada a várias seqüências viscerais de movimentos rápidos, sugere uma luta coreografada, estressante e repetitiva, reflexo dos nossos dias modernos, com suas relações rápidas e descartáveis construídas pela globalização da nossa sobrevivência, do abraço sem ternura ao consumismo exagerado, do mau humor constante e mordaz ao cotidiano mecânico e frio, do sexo rápido e decorado às lutas nossas de cada dia, que nos leva a labirintos, espirais confusos, estradas erradas, pausas fugidias de consciência... ou a andar em círculos em busca de soluções e saídas desse ciclo vicioso que renova, ou não, diariamente.

"Ulisses"- Foto: Juliana Protásio
Castro coloca em cena personagens que refletem o (in)consciente coletivo e suas relações de poder nos lembram Foucault, com figuras e personagens símbolos das nossas ideologias como o executivo capitalista que tudo quer, interpretado por Jairson Bispo, em excelente forma; o operário destemido, porém acuado de Rafael Neto; o andarilho urbano interpretado pelo ator-dançarino Danillo Brachi ganha uma construção contundente e divertida, ao vigor e impetuosidade de Sérgio Diaz e Bárbara Barbará, que diga-se de passagem, ela está com visual e cabelos arrojados, dignos de sua personagem. A doçura de Leandro Oliveira brinca com a força de Janahina Santos e Maitê Soares, que somadas a maturidade de Cristina, completam o ciclo de sentimentos aflorados em várias relações sugeridas e/ou desenvolvidas na trama apresentada.

Este trabalho é feito para bailarinos intérpretes, pois a maturidade cênica vem não só da perfeita execução dos movimentos, mas do clima vivido por cada história das personagens-pessoas-arquétipos que os bailarinos interpretam e dançam ou vice-e-versa, em cada seqüência.

José Ulisses da Silva - Foto: João Meirelles
Outro detalhe interessante é uso do vídeo em cena, que é preciso e necessário, sem as afetações daqueles espetáculos que só utilizam este recurso "para encher lingüiça" ou para adquirem conceito de pós-modernos e tecnológicos. Em alguns momentos ele chega a representar, para os mais intelectualizados, um alter-ego da coreógrafa que nos guia por esta história com seus pingos de poesia urbana. Será isso possível, no meio de tanta correria cotidiana?!

A luz, concebida por Fábio Espírito Santo, dá várias nuances de interpretação, principalmente quando o público não é mais platéia e sim palco. Pequenos focos são acesos em pontos estratégicos da platéia trazendo para dentro da cena, aos olhos e condução das personagens, as personas reais, que os assistem.Talvez esse seja um dos momentos mais reflexivos do espetáculo quando a coreógrafa "brechtianamente" em silêncio, pergunta para o público:

"E você, como se vê diante desse nosso mundo? Já se achou? Ou se perdeu?"

Isso ela já sugere, com os espelhos estrategicamente focalizando o público, numas das cenas iniciais, quando os dançarinos estão se vestindo. Somos o reflexo daquilo que queremos ser ou daquilo que os outros querem? Filosofia moderna!

"Ulisses"- Foto: Juliana Protásio

Sem mencionar a trilha sonora composta para o espetáculo com a direção de Jarbas Bittencourt (a menina dos olhos musicais e teatrais de Salvador) e Kico Póvoas. Esta trilha inclusive, está reunida em um cd a venda no próprio teatro.
Que ficha técnica, hein!!

Cristina Castro volta com todo gás e é novo e bonito vê-la em cena!

Ela está mais acostumada a se mostrar por detrás das suas obras ou aulas, como a seqüência que fez para a audição do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros deste ano, ainda nesta semana, tirando aplausos calorosos e suspiros de todos os presentes, ilustres e anônimos, com mais um de seus fragmentos de sonhos e devaneios, emergidos de uma artista intrigante e de grande sensibilidade, que a torna, junto com seu guerreiro grupo, num dos grandes nomes atuais da dança no cenário nacional.

Que sua fábula moderna continue contagiando a todos, guiando-nos por este labirinto real onde a arte certamente é uma saída. As outras poderão estar em vários lugares, talvez bem mais perto do que se imagina, como diz a voz masculina em off, bem distante, já perto do fim do espetáculo:

"A resposta, cara, tá com você, dentro de você!"

Não foram exatamente estas as palavras, mas que a mensagem eu ?captei?, isso pode ter certeza que sim!

Merda para todos! Uma ótima Temporada!!

Marcelo Benigno não é crítico de dança e nem especialista da área, mas é público, e como tal sente, ri, se emociona e se inspira, construindo um diálogo possível e sincero entre a obra de arte e o expectador.

Aroeira - Foto: Márcio Lima

“Eran òrìsà, Ló gbe ‘wé o”

http://nucleoviladanca.com.br/

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Antropofagiando em VDC Lost! Autopoieses do indizível e repetitivo: Alguma coisa está fora da ordeml!

Manifesto Antropófago no Putetê- Foto: Underground Pub


Queridxs, evoé! Minha temporada em Conquista tem rendido alguns encontros e aparições afetuosxs, repetitivxs, e/ou instigantes. Transcrevo aqui, duas entrevistas que concedi recentemente. A Primeira a Ana Paula Marques para a Revista Mega e a segunda, a Mariana Kaoos para o Blog do Rodrigo Ferraz: [http//www.blogdorodrigoferraz.com.br/2016/09/20/tome-nota-especial-entrevista-exclusiva-com-o-ator-e-diretor-marcelo-benigno/#more-95345 ]
Ambas registram a memória de antes e de agora, forte, potente, latente e transformadora e dialogam sobre arte, cultura, produção, políticas públicas, Caçuá! Num país que não valoriza a memória, a arte e a cultura, mostrar o que já foi feito, com vistas a fazer mais, fortalece a nossa força e labuta. O Grupo Caçuá de Teatro faz aniversário no mês de agosto e este passa a ser um presente carinhoso de Ana e Kaoos para nós, a cidade e quem participou de tantas histórias pelos palcos do Centro de Cultura e ruas da cidade Mongoió! Nós somos nosso dicurso/arte/vida na prática e não esquecemos de nada que aconteceu e acontece em VDC Lost.
Obrigadx pelo espaço!  Evoé, axé e merda sempre pra nós! Só a Arte salva!
Performance- (Des)Enrolar- Cloto. Láquesis e Átropos


ENTREVISTA- ANA PAULA MARQUES- REVISTA MEGA -Ago/2016


- QUAL SERIA A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA QUE POSSIBILITA A CRIAÇÃO DE UM NOVO CONSELHO E DA DISPONIBILIZAÇÃO DE UMA VERBA PARA EDITAIS NA CIDADE?
Decisiva! Esta questão sempre foi recorrente nas pautas da classe artística local frente à Prefeitura. Desde o Governo de Murilo Mármore, (1989 a 1992, veja quanto tempo!!) que havia um projeto de um edital local para a classe,  mas que nunca aconteceu. A Associação do Teatro Conquistense realizou, inclusive, vários encontros e projetos na tentativa de diálogo com o poder público local, mas em vão! Sem verbas e investimentos na área cultural não há fomentação e continuidade de ações de desenvolvimento artístico e cultural na cidade! Se não olharmos a cultura e a arte como prioridade, como política pública construída em conjunto, não teremos profissionais para trabalharem, porque os artistas e produtores culturais vivem dos seus trabalhos, como qualquer profissional, em qualquer área! O problema que este olhar retrógado que vê a cultura como algo menor dá nisso: falta de investimentos e projetos, ausência de políticas públicas para a cultura e arte, o que significa ausência de trabalhos, e por conseguinte, falta de opções culturais e artísticas para a população, que é a mais beneficiada!

Dionísio, ccom o ator conquistense Mauronildo Rocha, em Performance no Fórum João Mangabeira em Conquista.
Foto : Acervo Pessoal 

- QUAIS FORAM AS CONSEQUÊNCIAS DESSE SISTEMA NÃO TER SIDO IMPLANTADO ANTES, PARA OS ARTISTAS CONQUISTENSES?
De imediato, posso te falar, o êxodo dos artistas e profissionais das artes para outras cidades e capitais; aumento da violência na cidade (me diga quais as opções culturais e artísticas em Conquista?!), empobrecimento cultural e artístico para a região. Não há respeito, continuidade, valorização e diálogo com os profissionais e nem investimentos na área, então como dizer que se quer o desenvolvimento de uma cidade, negando a cultura e a arte?!

"Auto da Conquista"  Teatro Vila Velha- Salvador-BA- 2003- Foto: Marco Peixoto


- VOCÊ ACREDITA QUE A RETOMADA DO CONSELHO MOBILIZARIA OS ARTISTAS NOVAMENTE?
Talvez, pois há muito tempo não acontece nenhum investimento nesse sentido em Conquista, duas décadas é muito tempo de ausências! Não há credibilidade para quem abandona a cultura na sua cidade ou a ver como projetos esporádicos de entretenimento! Centro de Cultura fechado, ausência de projetos contínuos, falta de diálogo e projetos locais.... Nesta geração de agora, virtual, efêmera e globalizada retomar um trabalho cultural em Conquista levaria tempo, investimentos, qualidade e muita mobilização artística e social.

             CLIC! Velório “pretinho básico” da Cultura Conquistense - Artigo que virou
 Manifesto Público na Câmera Municipal de Vitória da Conquista-BA
reivindicando uma política cultural para a cidade- 2001- Foto Acervo Pessoal

[http://movimentomovai.blogspot.com.br/2011/03/ano-2001.html]

- A CRIAÇÃO DO SISTEMA, DE ACORDO COM OS MEMBROS DO GOVERNO MUNICIPAL E ESTADUAL, FOI FEITA COM BASE EM DEMANDAS DOS ARTISTAS, PORÉM, NÃO HOUVE PARTICIPAÇÃO DOS MESMOS. VOCÊ ACREDITA QUE É NECESSÁRIO UM DEBATE SOBRE O ASSUNTO, ANTES DA CÂMARA DE VEREADORES APROVÁ-LO?

Como que os artistas e profissionais não participaram disso?! Que coisa louca e malfeita! Isto procede?! As minhas necessidades e do meu público quem sabe sou eu que trabalho com ele diretamente, não outrem! Esta velha formatação “política”, feita de cima para baixo, sem consulta pública aos interessados, é tão feia e retrógrada que parece a cena da Novela das Nove, Velho Chico, dessa semana, onde um Vereador sensato, interpretado pelo maravilhoso Irandhir Santos, quer aprovar um projeto para a cidade e os vereadores, a mando do Coronel, esvaziam a tribuna para não ter quórum.  Esta história é tão velha, Paula, que em 2001, fizeram uma reunião similar na Câmara de Vereadores em Conquista para Discutir a Arte e Cultura Locais e não nos convidaram!  Resultado: Fomos montadxs nos nossos personagens, invadimos a sessão e fizemos o nosso protesto que gerou o “Velório Pretinho Básico da Cultura Conquistense”. Tá tudo registrado no blog do Movai- Movimento de Valorização do Artista do Interior.  Publica aí para o re/conhecimento das pessoas esquecidas.[http://movimentomovai.blogspot.com.br/2011/03/textos-e-artigos-do-movai.html]. Pois de tanto lutar, andar, trabalhar, questionar, os artistas e profissionais da arte em Conquista estão cansadxs! Triste Bahia! Triste Conquista! Sem Cultura e arte não há desenvolvimento de lugar algum!
“Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo.” Garcia Lorca

"Bufões gregorianos e a velha história de sempre"
Artigo publicado no Jornal A Tarde- 25/10/2007
Manifesto Bufão na Conferencia Municipal de Cultura em Vitória da Conquista-BA

Manifesto Bufão-  Epílogos- Gregório de Matos
"O que falta nessa cidade?... Verdade."


ENTREVISTA- MARIANA KAOOS- 
19 de Setembro de 2016- Sertão da Ressaca- Bahia


1- Como você pensa a questão das artes cênicas em Vitória da Conquista nos dias atuais? O que falta, o que transborda?

As artes cênicas em Conquista estão inseridas num cenário artístico e cultural que envolve outros elementos, que formam uma cadeia produtiva fundamental: Investimento, Público, Espaços e Profissionais da área: os artistas- que são os fazedores; e os gestores e produtores culturais, que movimentam a área. Em Conquista esses quatro elementos andam separados e só juntos podem fomentar a arte e cultura numa cidade. 
Manifesto Bufão - I Conferência Municipal de Cultura de Vitória da Conquista-BA-  2007- Foto: J. C. D' Almeida

Há também um recorrente problema na Vila Imperial Conquista, a falta de referência dessa nova geração, que costumo chamar de geração google: da citação colada da internet descontextualizada da prática e vivência no seu corpo/discurso. Então, para quem se basta na internet, nos canais a cabo, na fachada de descoladxs e modernxs, para que serve a arte e a cultura fora das telas cybernéticas de um mundo perfeito? Não faz diferença ter ou não. Atualmente o rio de Tebas Conquistense está seco, não trasborda e a morte é certa... Falta respeito, valorização, investimentos, zelo, afetos, encontros. Transborda de entidades, artistas e fazedorxs que sucumbem seu fazer a falta do óbvio.

Grupo de Teatro da Uesb- Intervenção Cênica
Vitória da Conquista- Bahia
Acervo do Grupo
Grupo de Teatro da Uesb- Saída de Personagem- 1998
Vitória da Conquista- BA

2- É obrigação do poder público pensar em viabilizar instrumentos para a difusão cultural? Como seria possível impulsionar a arte em VCA através dos poderes públicos?

Sim, é obrigação do poder público viabilizar e investir em formação cultural em suas cidades. Vou baixar meu lado acadêmico e trazer nessa conversa Albino Rubim, professor e pesquisador da Ufba e ex Secretário de Cultura da Bahia quando diz: “As políticas culturais devem compreender esse panorama como um sistema em sua totalidade articulada: 1. Criação, invenção e inovação; 2. Difusão, divulgação e transmissão; 3. Circulação, intercâmbio, trocas, cooperação; 4. Análise, crítica, estudo, investigação, pesquisa e reflexão; 5. Fruição, consumo e públicos; 6. Conservação e preservação; 7. Organização, legislação, gestão e produção da cultura. ” Como se vê é uma cadeia de ações envolvendo vários atores sociais e entidades, neste mercado da Cultura, se não há um olhar especializado direcionado para a área não haverá produtos!


"Ide, Ó Logia, Vá buscar o Seu Destino"- 2001-
Arte: Marcelo Lopes

Nas terras brasilis as políticas culturais são consideradas políticas sociais e a presença governamental é recente, o ponto forte é o Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas, na gestão do ministro Gustavo Capanema (1934-1945), só para contextualizar um pouco o papo, pois os ignorantes acham que nós, artistas e profissionais da cultura não contextualizamos nosso labor! Mas as contribuições de Mario de Andrade, salve grande mestre, com a criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Instituto Nacional do Livro, o Instituto Nacional de Cinema e o Serviço Nacional de Teatro, além de sua passagem pelo Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, (1935 a 1938) é considerado, pelos pesquisadores, o momento que abriu e expandiu as políticas culturais no Brasil, e por ai vai...
"Teatro de rua revela aspectos da cultura regional"
Matéria Jornal Diário do Sudoeste-25 e 26/01/2003- Joísa Ramalho
"Jovens levam teatro para a feira" Matéria Jornal A Tarde- 03/02/2003
Celino Souza
"O Cordel do Pavão Misterioso" Amostrão Vila Verão 2004-
Teatro Vila Velha- Salvador-BA
http://blogdovila.blogspot.com.br/2004_01_01_archive.html ]
"O Pavão" na Mostra Sesc de Artes Pelourinho 2006-
Cruzeiro de São Francisco- Pelourinho- Salvador-BA
http://blogdovila.blogspot.com.br/2006/09/mostra-sesc-de-artes-o-projeto-do-sesc.html ]
Edital 001/05 Projeto Circuladô Cultural 2005- FUNCEB-
Santo Amaro da Purificação- BA

"O Cordel do Pavão Misterioso e a Cerca- Projeto Teatro de Cabo a Rabo-
 Teatro Vila Velha- Salvador- BA- 2003

As Políticas públicas culturais mudam definitivamente uma cidade, seja pela Economia Criativa impulsionada, seja na arte como formação pessoal, artística e cidadã, ou na profissionalização, através de cursos e oficinas, seja através da fruição e contato com obra de arte in loco, através de suas variadas expressões... Veja o Recife por exemplo, é conhecido pela sua cultura popular! Pra não ir tão longe Feira de Santana e Ilhéus tem investimentos na arte e artistas locais, através de ações do poder público, o que em Conquista, cidade de Glauber Rocha e Elomar, por ironia de Deus ou do Diabo na Terra do Sol, nada acontece! Que vergonha, Meu Dionísio! 
Provimentos Culturais Conquistenses- 2013
Muito antes do Fora, Temer!
Se tivéssemos editais públicos e uma política cultural de investimentos e não de eventos, toda a cidade se beneficiaria! Não pode é ter essa mentalidade que profissional das artes é mendigo! Que Artista não deve receber pelo seu trabalho, ou receber muito pouco! Falta valorização, respeito! Artista trabalha muito, tem contas a pagar, aluguel, despesas, caga, mija, come, tem filhxs, consome, vive do seu trabalho, que é digno com qualquer outro!

"100 Conquistas, Sem Vitórias para a arte conquistense! CLAP! CLAP! CLAP!"
Artigo publicado no Jornal Diário do Sudoeste- 02 e 03/11/2002

“Uma política pública é feita de presenças e ausências. Uma vez que o Estado não atua em determinada área, imagina-se que esta seja secundária, não fazendo parte das prioridades das políticas implantadas. Partindo desse pressuposto, é possível perceber que apesar da formação de gestores e produtores culturais no Brasil ser atualmente um dos grandes desafios postos diante do poder público, em seus três níveis, ainda é uma ação continuamente preterida perante tantas demandas."  Leonardo Figueiredo Costa.

""O Putetê"- Só a Antropofagia nos une!

Material de Divulgação " O Putetê".
http://revistagambiarra.com.br/site/o-putete-festa-contara-com-performance-inedita-do-ator-marcelo-benigno/ ]
Ditirambo Antropofágico Anunciador do Putetê:
"Tenho fome de me tornar em tudo que não sou!
Extra, extra! Em tom paradisíaco anunciamos que o deus grego, pai das artes, do gozo e dos vinhos, Dionísio, soube da grande novidade dos trópicos e resolveu descer por aqui, nessas terras tupiniquins do matriarcado de Pindorama. Ao ouvir o burburinho de que não existe pecado ao sul do equador, de sua boca farta e voraz pode-se ouvir o seguinte balbuciar: Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria, mãe de Deus!
Trajando apenas uma pena que cobria a parte mais importante de seu corpo, ou seja, seus olhos, convidou algumas de suas Ninfas para a tão calorosa viagem. Como soube que aqui, nessas férteis e verdejantes terras tudo que se planta cresce e floresce, Dionísio trouxe na mala sementes de alguns de seus mais valiosos bens: Semente de conceito, de performance, de arte, de cultura, de teatro. Que abundância, meu irmão!

Bom, para a surpresa de Dionísio que, ao fincar seus pés nesse misterioso país del amor passou a se chamar Marcelo Benigno, yes, nós temos banana! Nós, equipe de produção putetística iremos receber com muita honra e satisfação a presença desse maravilhoso diretor e ator teatral nessa edição de retorno do Putetê. Já podemos adiantar que só a antropofagia nos une, socialmente, economicamente, filosoficamente e que performances vão rolar para o nosso deleite em berço esplêndido.
No mais, tudo na mais perfeita paz!"
Evento: O Putetê - Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Local: Underground Pub
Horário: 21h

3- Recentemente você participou da festa O Putetê, apresentando uma performance antropofágica permeando por identidades brasileiras. Qual a importância de inserirmos, dialogarmos com as mais distintas vertentes artísticas? Para você existe diferença entre produção de entretenimento e produção cultural?

A cultura e arte estão presentes em todos os lugares! Nas grandes capitais os eventos de entretenimento focam na arte como diferencial, ao ponto que se diverte e participa de uma experiência estética. O mercado de cultura é amplo, a diferença para mim é o que você quer como produtor cultural: Você só está interessado na cultura como mercadoria capitalista consumista ou vê a cultura como formação e transformação das pessoas?! 

Um produtor pode só oferecer entretenimento comercial, afirmando oferecer cultura e arte, quando na verdade, seu interesse é meramente o lucro. Salve Gramsci, Canclini e Bourdieu! Costumo sempre falar que cultura e arte não é meramente entretenimento, é transformação, e se os poderes públicos, que são responsáveis por mobilizar e oferecer o melhor a sua população, não o fazem, os empresários do ramo entram em ação! Mas se tratando de Conquista isso nem acontece muito porque a profissionalização é limitada por aqui, nos espaços, na pouca mão de obra especializada, no entender o mercado...

Chegada de Láquesis a Câmara Municipal de Conquista-
Performance- (Des)Enrolar- Cloto. Láquesis e Átropos- Foto Maciel Jr.
http://revistagambiarra.com.br/site/sistema-municipal-de-cultura-sera-votado-em-30-dias-afirma-comissao-de-legislacao/]

Performance- (Des)Enrolar- Cloto. Láquesis e Átropos- Foto Natália Silva

Se eu passar um rider técnico de teatro, por exemplo, com um mapa de luz e som para montagem de um cenário, quantos profissionais saberão lê-lo e executá-lo? Uma montagem de uma exposição de artes plásticas com instalações específicas, um material necessário para fazer uma cena ou performance em dança... etc. Acontece coisas por aqui que você não acredita, aí quando me recurso a participar de determinados eventos acham que sou chato, mas sou mesmo, eu não brinco em serviço, sou profissional da cultura cansado de Guerra já, de Caçuá são quase 20 anos, comecei a fazer teatro com 9 anos de idade, vivo disso! 

Certa vez um espetáculo do Palco Giratório veio para Conquista com uma produção bastante especifica, o encarregado local, desconhecendo e menosprezando a importância disso, não fez a produção adequada e o resultado foi catastrófico na apresentação em espaço aberto. Tinha um Secretário de Cultura aqui em Conquista que nem sabia o que era DRT.... É para rir ou chorar? Pessoas são empoderadas para uma área que desconhecem totalmente, aí não admito fulanx ou sicranx que é de outra área, meter o bedelho na minha, sem conhecer, e dizer quais são as minhas necessidades e o que eu preciso, é mole?! Uma vergonha! 


Audição do Caçuá 2007
Caio Bernardes como "Gato Malhado" e Daniela Lisboa como "Andorinha Sinhá"
Arisson Sena como "Gato Malhado" e Karina Botelho como "Andorinha Sinhá"
Prêmio Estímulo da FUNCEB para Montagens de Pequeno Porte- 2006
Uma Andorinha só não faz...
Uma adaptação popular, sertaneja e catingueira do texto de Jorge Amado:
 "O Gato Malhado Malhado e a Andorinha Sinhá". Caixa e Rua
http://www.uesb.br/ascom/ver_noticia_.asp?id=2309 ]

Peço licença e faço minhas agora, as palavras do mestre Gilberto Gil, no discurso de posse como Ministro da Cultura, em 2003. Kawó Kabiesilé!!

 “E o que entendo por cultura vai muito além do âmbito restrito e restritivo das concepções acadêmicas, ou dos ritos e da liturgia de uma suposta “classe artística e intelectual”. Cultura, como alguém já disse, não é apenas “uma espécie de ignorância que distingue os estudiosos”. Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos. Desta perspectiva, as ações do Ministério da Cultura deverão ser entendidas como exercícios de antropologia aplicada." Gilberto Gil.


Prêmio Cultura VIVA 2007- Ministério da Cultura-
Projeto Arte para a Comunidade- Grupo Caçuá de Teatro -2000.


E quem arremata esta prosa é a filosofa Marilena Chauí: “Um dos instrumentos mais poderosos e eficazes da legitimação do Estado contemporâneo é a política cultural e a indústria cultural (...) porém, a política cultural pode oferecer-se como política nacional que interessa à nação e à sociedade como um todo, enquanto a indústria cultural se oferece diretamente determinada pelo jogo do mercado e da competição. A política cultural pode aparecer como incentivo à produção cultural, enquanto a indústria cultural se baseia exclusivamente no consumo dos chamados bens culturais (CHAUÍ, 1984).

"Entre a Cruz, a Espada e a Estrada- Como nasce um Artista Sertanejo"
Festival de Cenas Curtas. Grupo Galpão- Belo Horizonte 2005
4- Temos visto o teatro ser deixado de lado em inúmeros cantos. Não se valoriza os artistas, tampouco os espaços. Em Salvador o teatro Vila Velha está quase fechando as portas. Em VCA, há mais de três anos que o Centro de Cultura está inviabilizado. Como a própria população pode atuar em prol da cena, cobrando mais investimento dos espaços e valorização dos artistas?

A ausência de políticas públicas culturais afeta, definitivamente, a relação entre formação e profissionalização nessa área. Se a população não tem acesso a arte e cultura não vai sentir falta. Nesses últimos anos estamos vivendo no Brasil uma onda conservadora que tenta ressarcir tudo o que é diferente e foge do metro. Há um emburecimento e uma dominação religiosa das pessoas que abitola e castra, sobretudo, em relação a arte, cultura e diversidade. Nem a cultura popular, que é algo tão presente e natural na vida das pessoas, sobretudo, no meio rural, (vivemos numa caatinga onde a população rural é imensa e invisível e não numa Suíça Baiana!) é valorizada e incentivada. 

Prêmio Jurema Penna- FUNCEB 2008- Circulação de Espetáculos Teatrais na Bahia

Por essas bandas, Kaoos, tudo vira manobra política partidária, tudo é promessa, mentira e hipocrisia. Se a população não tem consciência política a arte vira isso, ou entretenimento caro destinado a quem pode pagar ou consumir, ou discurso vazio dos “pseudos artistas locais” que oferecem sua arte/mercadoria despolitizada de qualquer discurso emancipador e de qualidade gosto questionáveis numa bandeja de prata... E se tratando do cenário e dos gestores no Arraial da Ressaca, as perspectivas não são as melhores... É o velho ditado: Em terra de cego quem tem um olho só é rei!

Nessa minha temporada recente em Conquista, entre a cruz, a espada e a estrada, sempre, fiz algumas pequenas intervenções e trabalhos que destaco: 

Mortícia e a Formação Continuada para Profissionais da Educação em Conquista- Foto Ellen Aguiar

-Performance na Sessão na Câmara de Vereadores sobre o Sistema Municipal de Cultura (só estavam presentes 3 vereadores, para você ter uma ideia); [http://revistagambiarra.com.br/site/sistema-municipal-de-cultura-sera-votado-em-30-dias-afirma-comissao-de-legislacao/]

E recentemente o evento do Putetê, que foi lindo e tem uma proposta antropofagicamente bastante interessante:[http://www.blogdorodrigoferraz.com.br/2016/09/14/festa-de-discotecagem-ressurge-em-vitoria-da-conquista/]

Performance Gastronômica:
" Só curto Antropofagia se como tijolo com ketchup!" no Putetê- Foto Elecktra

"Nas ausências inomináveis e cansativas do (re)dizer Marcelo Benigno continua a prestar um serviço resistente à Vitória da Conquista e que é nublado apenas pela carência de uma plateia formada. Somos menos de já fomos um dia e a capacidade de decodificação da obra de arte em suas modalidades descritivas, técnicas ou mesmo semióticas tem se tornado rarefeita. Quem não lê, vê ou assiste não apreende referência e decodifica com visível dificuldade, impossibilitado de receber o que é entregue de bom grado: a experiência estética. Por que quanto mais lemos mais entendemos o que lemos. Se lemos pouco entendemos. Não há plateia sem contato com a arte. E não há arte sem fomento. Reverência também à arte de Elecktra resistente nesta cidade que lhe deve mais carinho e espaço. Evoé queridos!"  Eduardo Nunes. 17 de Setembro. Facebook

Ontem, dia 19 de setembro, fui em mais uma reunião, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima (ainda fechado), da Câmara Temática de Cultura, envolvendo o Território de Identidade de Conquista e região. Pra mim, o mais forte da noite foi sentir no meu flashback da memória e no meu corpo o quanto aquele espaço me afeta como pessoa, cidadão e artista, e o como me formou, e a tantxs outrxs que experienciaram comigo tudo que fizemos ali!

Cada parede, cada espaço, cada projeto, cada intervenção do MOVAI, cada protesto nas ruas e no poder público, cada artigo nos jornais, cada edital e prêmio ganho, com tanta gente pulsante que respirava, estudava, praticava e vivia arte e teatro para os seus e sua comunidade! Vê aquilo morto, vazio, amorfo... é a imagem mais forte e representa tudo isso que estamos falando.  Torna-se repetitivo as coisas em Lost VDC, pois a estagnação é notória e só quem vivenciou o cenário cultural e a potência do teatro (e das outras artes) em Conquista, sabe o que estou falando! 

"Auto da Conquista"- Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima-
Vitória da Conquista-BA- 2000
Ninguém fica na cidade! Virou uma cidade fantasma amaldiçoada no seu signo de escorpião com sangue mongoió derramado. Quem tem emprego “civil” noutras áreas vive dele e não de arte e cultura! Na terra das ausências, os artistas morrem, mudam, migram e o ciclo fecha e acaba, assim como a cortina vermelha do espetáculo. Se a população não se apropriar dos espaços públicos tomando-os para si, esse clima fúnebre permanecerá. No espetáculo funesto das eleições, em ano de golpe político no país, o óbvio é preludio do que vem por ai. Gostaria de ser otimista e encerrar o papo “para cima”, em clima solar, mas meus anos de janela e experiência dizem o contrário.
Agradeço o espaço Mariana e encerro com um pensamento de um dos meus mestres evocado e enraizado em meu corpo/poética/discurso. Andemos! Axé, Evoé e Merda pra nós! Só a arte salva! “Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.” Ariano Suassuna.


Transmutação da Carne de Ayrson Heráclito- Terra Comunal : Marina Abramović + MAI. 2015. Performance. Sesc Pompeia- São Paulo. Foto- Caio Toledo
[https://www.youtube.com/watch?v=LDkKj-hgvcU]
http://blogdofabiosena.com.br/v2/noticias/cotidiano/transmutando-em-carne-arte-e-vida-entre-o-local-nacional-e-internacional-santo-de-casa-so-faz-milagre-fora-mesmo/]
     Transmutação da Carne de Ayrson Heráclito- Terra Comunal : Marina Abramović + MAI. 2015. Performance. Sesc Pompeia- São Paulo. Foto- Caio Toledo
[https://www.youtube.com/watch?v=ZXMANizUO1s]
[http://revistagambiarra.com.br/site/marcelo-benigno-nao-queremos-fazer-arte-so-pra-entreter-as-pessoas-a-arte-pra-gente-e-formacao-criacao-e-consciencia-2/]