sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Excrementos conquistenses dos artistas teatrais em busca da Fama- Texto de 2003





 Vendo a onda de novos "profissionais" de teatro em Vdc Lost sem formação, sem experiências, sem conhecimento dando aulas, dizendo ser "artistas" e/ou atores melhores, jovens e donos da razão e arrogância, com uma falta absoluta de ética e relação de classe,  republico um dos textos que tocam nessa maldição, um texto de 2003, do MOVAI- Movimento de Valorização do Artista do Interior. 15 anos depois e nada muda! Quando eu falo... Antes de falar de vocês e achar que descobriram a pólvora queridxs, respeitem quem veio antes! Quer dar aula, vá estudar! Quer atuar, vá estudar! Quer dirigir, vá estudar! Vá criar calos nessas mãos! Vá malhar o cavalo, abestadxs!
Vá de retro!

Excrementos conquistenses dos artistas teatrais em busca da Fama

             Aviso aos navegantes que se iniciam. Aula número 13



Estava sentadinho na sala do meu amigo, em Salvador, quando na tela da tv exatamente, no canal da MTV,  passava um make in off da gravação de um clipe da popstar Madonna.
No clipe, ela incorporava  “personagens - ícones” da cultura norte americana que  idolatram Hollywood, beleza, status e fama. Nos quadros, as personagens cantavam a mesma música, passando um pouco da sua trajetória, em busca da fama e da sua imagem ali exposta.

Antes da finalização do clipe a própria Madonna comenta, fora das gravações, sobre o sonho americano de supremacia idealizado por muitos e faz um diferencial interessante quando diz que os realites shows dão às pessoas a sensação de fama conseguida do nada, sem trabalho, estudo ou qualquer empreendimento para alcançá-la. Nesse ponto, ela enfatiza muito a questão do trabalho em prol da conquista, ao contrário da falsa idéia de ascensão  rápida ou forjada  pelo dinheiro, mídia ou soluções mágicas de dinheiro vendidas nos classificados populares.

Fiquei pensado naquele comentário enquanto terminava de ver o clipe pronto. Toda aquela produção diante da nossa protagonista musical, que, diga-se de passagem, tem uma carreira invejável a qualquer artista de renome mundial, e  que “ralou” muito para chegar onde está.
E cá com meus botões, comecei a pensar na minha arte, nos meus desejos e objetivos como artista, nas pessoas que estão a minha volta...
Cheguei à óbvia conclusão, que aqui no nosso terceiro mundinho brasileiro, também se reproduz o sonho americano de poder, e que isto, não se restringe apenas às áreas artísticas.

Para não ser muito prolixo, analisemos a nossa própria cidade, os nossos próprios conhecidos e amigos que fazem tudo por uma pitadinha de fama ou dinheiro.

Até aí, tudo bem que as pessoas tenham ambições, projetos, contanto que não envolvam outras de forma desonesta e nem ultrapasse a ética, que controla as nossas ações.
Mas a recíproca é verdadeira e estou cansado de ver oportunistas da arte cavarem suas carreiras com os méritos de outrem ou usarem a inocência dos outros para se promover.

Tivemos recentemente exemplos aqui no nosso grupo.


O jovem escritor mimado, que para perpetuar sua obra, lança-se como supra-sumo num espetáculo de teatro dando inclusive, créditos para si mesmo, dirigindo, escrevendo, produzindo e atuando, ah,  antes que me esqueça, ele também assina a direção geral do trabalho, que não paga os atores, visto que não se é um grupo-família, e todo mundo pode agregar seus trabalhos amadores à obra. Afinal, foram três diretores na empreitada, sendo um único deles o artista da história. Nossa, o nosso redundante dionísio deve ter no mínimo, duas graduações para tanto empreendimento, pois como sabemos, atuar sem registro profissional é ilegal, imagine, dirigir,  produzir e  enganar?!
Extra, extra, vende-se aqui profissões e carreiras nascidas de um aborto totalmente artaudiano e ilegal.




Sem esquecer, é claro, dos que chegam de fora e discretamente rouba atores alheios  como resquícios de sua carreira brilhante e ética, afinal, quem vem de fora sempre é melhor do que os que aqui estão, e respeito é bom, só para quem é conveniente ou quando se  denuncia ações com estas aqui presentes. Nossa, até rimou!

O mal da nossa city, meus caros, é que os interesses por mais que pareçam coletivos sempre deslancham para o lado pessoal.





Enquanto não respeitarmos o nosso colega de verdade, sempre achando-o bestinha e bonzinho demais para nos denunciar, estaremos criando relações de favores e “vistas grossas” aos  erros  dos mais chegados por amizade, conveniência ou cumplicidade.

Ora, amigos, amigos, negócios à parte. Justiça para todos ou hipocrisia famigerada?!

Mas aqui, na nossa GreenVille tudo é permitido, seduzir atores de outros grupos, não pesquisar e nem trabalhar como se deve, (inclua-se não trabalhar com a formação de atores nos grupos), copiar aulas e metodologias dos mais graduados, usar nomes e referências de  quem  realmente é correto para se promover, pegar atores emprestados dos grupos e incutir em suas cabeças a prostituição por míseros cachês passageiros ou ainda por independência e maioridade adquiridas, errar e não admitir o erro,  sair de grupos ou de contatos com outros artistas fechando todas as portas, pular de companhia pra companhia fazendo sempre merda por anda passa (funh!), pensar nos resultados e não no processo, querer abraçar o mundo com as mãos e subir ao topo sem andar os degraus da escada da vida, mentir, ludibriar, e enganar professores, colegas e  a si próprio para satisfazer os interesses pessoais e o ego, ser ator de si mesmo 24 horas por dia, e principalmente não respeitar os mais velhos, não conhecer antes de criticar e receber os méritos pelos esforços e trabalhos pessoais e coletivos... será que esqueci alguma coisa?!

Se fosse escrever tudo que a nossa cidadezinha e seus pseudos artistas fazem, rs, daria uma lista  daquelas.





Por isso, crianças, fazer teatro é uma descoberta que não é tão inocente assim e  que vocês devem aprender desde cedo, pois o Lobo Mau anda por aí rondado as cestas das Chapeuzinhos Vermelhos indicando os caminhos errados para satisfazer os interesses de quem? Leram a história?! Pois o Caçador  aqui  é a  sua Consciência e só ela poderá salva-lo.

E pra terminar, um conselho deste professor:
(Aproveitem, que ainda não estou vendendo! )

Acreditem  nos valores pessoais de vocês, na família, nos verdadeiros amigos, nos objetivos da vida, e o mais importante: NA VERDADE!

Sem esta, nunca seremos artistas, pessoas, seres humanos inteiros, viveremos sempre na ilusão das nossas carências e necessidades existenciais, sempre pisando nos outros e achando que vivemos num eterno palco de felicidades e ilusões.





Teatro é acima de tudo acreditar em possibilidades, e arte é tudo de bonito que se possa imaginar. Sendo assim, voem em busca dos seus sonhos, crendo numa arte verdadeira, digna e transformadora, pois o nosso mundo não é feito de Madonnas e artistas de televisão bem sucedidos, mas de cidadãos simples que através das reflexões desta, e de tantas outras artes, saberão aonde ir e o que fazer  e,  sobretudo, perceberão que nem tudo nessa vida é o que parece.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

CERCADINHO DE AFETOS No jogo do teatro popular empoderado nos encontros do Proler 2018


CERCADINHO DE AFETOS
 No jogo do teatro popular empoderado nos encontros do Proler 2018



Minha história com o Proler não é de hoje! Em 1996, como aluno do curso de Letras da UESB, participei do meu primeiro encontro. Dois anos depois, agora como Professor de Teatro na mesma universidade, ministrei a oficina “Leitura e Teatro” para professores e pedagogas de Conquista. No final, como resultado, montamos o que seria uma Escola Escolástica de Leitura de freiras inspirados no filme “Mudança de Hábito”,  falamos do poder da leitura e suas inflexões. Consegui túnicas para todas, fiz uma paródia com a música do filme, no ônibus da Salutaris, vindo numa dessas apresentações do “Assassinato do Anão...”, que estava viajando em festivais e cidades do interior paulista, do qual fazia parte. Tenho fotos dessa oficina, vou achar e repostar aqui.

Em 2015, voltei a Vdc Lost e fui convidado a participar do XXIV Encontro de Leitura do Proler, que aconteceu no povoado de Inhobim, onde fiz a oficina: “Jogos Teatrais e Teatro Popular”. Era uma turma de adolescentes que, apesar da apatia típica, gostaram da proposta.

Proler em Inhobim

Cercadinho- Bahia- Visão da nossa sala

Agora em 2018 volto ao XVII Encontro do Proler no povoado de Cercadinho. Como a resposta da oficina anterior fora positiva, eu planejava refaze-la e encerrar com um cordel, mas ao chegar em Cercadinho, vi que era uma turma de crianças e não de adolescentes. No jogo de cintura, literalmente, e no jogo do caatingueiro brincante, adequei e transformei a proposta inicial. Falo isso porque todas as idades podem - e devem -  fazer teatro, mas para cada uma, metodologias e atividades específicas.

Foram três dias de corre corre, energia, energia, energia dos erês, que não acabava mais! A pessoa quer dar oficina para crianças e acha que eles vão ficar quietos o tempo todo?! Fica a dica para os meus ex alunos do curso de Licenciatura em Teatro da Ufba.

Primeiro dia de Oficina

A turma era bastante enérgica, mas super respeitosa. Contei também com o super apoio da professora Shirley Nascimento, que me auxiliou. Os erês, às vezes, querem nos fazer de besta, querem brincar, correr, pular, ser feliz... e eu deixo! Entro no jogo, afinal, eram só três dias -  o lado benigno tem que aflorar primeiro, e a doçura não significa falta de rigor, ainda mais no teatro - . Fiz até umas posições de ioga com eles e expliquei que na vida, assim como no teatro ou na escola, tem hora pra tudo. Sou calmo, de boa, mas sempre que precisa, fico arretado... Desculpem o linguajar popular, mas quem fala aqui é mais o caatingueiro brincante que o acadêmico chato, e a poesia e cultura do sertão me serão de mais valia que qualquer outra coisa.

Segundo dia da Oficina

Antes do teatro
Depois do teatro


Foi linda a entrega deles! Trabalhei com Jogos Teatrais, leitura e inflexão, o jogo das caixinhas (assim que eu chamo) de improvisação, a máscara neutra para chegar na máscara dell’arte, para chegar no cordel. Ufa! Ceis pensa que “ensinar” ou experienciar arte é fácil?!

Exercício com as máscaras neutras

Foto séria que vai pro relatório, rs.


Ações cotidianas com as máscaras

Relatório dos participantes. Um desenho sobre o que mais gostou ou lembra a oficina de teatro


Então chega o dia de mostrarmos o resultado da Oficina para as pessoas e público no dia de encerramento. Éramos o quinto grupo a se apresentar.
Reunimos a turma numa sala e fizemos uma roda de concentração. Expliquei a eles que este momento de roda e concentração é importante quando se vai fazer uma apresentação, e conclui explicando o significado da expressão Merda em Teatro, e desejamos Merda a todos!


Heitor e seu desenho. Uau ficou lindo!

A apresentação foi quase uma aula pública, pois escolhemos exercícios que tínhamos feitos no decorrer da Oficina. Acredito que todo resultado artístico deve fazer parte do processo de trabalho, não meramente focado num produto ou resultado. Há uma febre das escolas em Conquista, e em geral, de fazer aquela apresentação de final de ano para os pais verem, com objetivos desconectados da prática e vivência dos participantes. Tem cada coisa que eu vejo...

Máscara, caixinha, Shirley e eu!

Ganhar um "eu te amo" não tem preço!

Fazer teatro é algo muito sério, expor uma criança, um adolescente ou até um adulto em cena exige muita responsabilidade e cuidado. 
Decidimos juntos o que iríamos apresentar e quem o faria, já que na oficina todos puderam experienciar tudo o que fizemos, individualmente, em dupla, em trio, ou em grupo, e tínhamos pouco tempo diante de toda a programação do encerramento. Teve tudo e até apareceu um velho por lá!  Cantamos as cantigas populares do repertório do caatingueiro (Caçuá de Teatro 20 anos) e enceramos com o Cordel do Pavão Misterioso.

Segundo Pietra eu e Shirley em cena!


Foi lindo, calmo, tranquilo, sem cobranças, no jogo infantil da alegria e da troca. Viva os erês!

Paisagem Típica da Suíça Bahiana

Esses dias em Cercadinho, a viagem saindo de Vdc Lost para a comunidade, a paisagem tipicamente seca de caatinga, as conversas com a equipe e todxs xs oficineirxs, as cantigas, a visita ao flamboyant mostram que devemos sair das nossas bolhas e estar com as pessoas. A arte, a leitura, o teatro devem ir ao encontro do povo. Por isso que faço Teatro Popular!

O Flamboyant e a nossa cantoria

O Proler tem uma missão incrível e muitos saíram afetados positivamente com os encontros dessa edição que reverberarão em nosso corpo - memória - discurso por muito tempo.

Em casa, encontrei o bilhete de uma mãe que agradecia pela alegria do filho ao chegar em casa após a oficina, só que ele não poderia ir no último dia, pois tinha compromisso marcado na cidade.

Pé de tamarino em Cercadinho. Quem gosta?!

Que possamos pensar cada vez mais numa arte destinada a todos! Uma arte acessível e transformadora para mudar essa comunidade, cidade, estado, país.
Só a arte e a educação conseguem nos libertar desse sistema aprisionador e dar fissuras de respiração e transformação nessa nossa Matrix louca e luta cotidiana pela sobrevivência.

Que reconheçamos a nossa identidade e força, e assumamos a nossa caatinga e valores. Pois de Suíça Bahiana estamos cansados!

"Vamos deixar de lado a Revolução Francesa e a Soviética, para descobrir a feijoada, o carnaval, o frevo. Nossa cultura é a macumba, não a ópera." Glauber Rocha

Saíam das suas bolhas, conquistenses, conheçam sua cidade, a zona rural, as periferias, os artistas locais.  Viver nessa cidade tão antagônica e diversa se achando  “a última bolacha (importada) do pacote”, além de ser cafona, está fora de moda!


Obrigado, Professora Heleusa Câmara, pelo carinho e energia! Tem pessoas que são entidades e estão em outro plano de energia! Uau!
Gal Novato Dona Heleusa Câmara e eu!

A equipe da Escola Rui Barbosa, a amiga Nailde, Fernando, Iracema, as meninas da cozinha: Leninha, Luzia e Cristina (que comida foi aquela, que tempero!!) A pessoa é da cultura popular e cultura popular sem comida não existe! Agradeci pessoalmente, pois temos o hábito de quando um serviço é ruim criticar, mas quando é em excelência, não elogiamos! Meninas, vocês arrasaram!

Equipe da Escola Rui Barbos a e equipe do Proler


Momento lindo homenagem as pessoas que contribuíram com a história da comunidade.
Nessa escola eu acredito!

Aos encontros com tanta gente linda e porreta, Paula Ferreira, Claudia Ferraz, Gal Novato, Keu Souza, Ebenilde Araujo, Jeane Marie, e todxs que religaram conosco. Gal Novato, quando eu crescer, quero ser igual a você! Só o poder da ancestralidade! Axé!
A Cris Leilane e Alexsandra Santos, companheiras do Núcleo Pedagógico da Smed. A jornalista gata garota Joana Rocha.
Kêu Souza na Abertura do Desfile de Gal- Poder feminino e ancestral. Axé!

Gal Novato e o Muso do Proler 2018 Jefferson!

Os erês, eu e Shirley. Foto certinha com nós não cola , rs.

E a minha turminha linda de erês que tornou esses dias mais bonitos e alegres.
E para finalizar essa escrita, a imagem que vem é a da apresentação que encerrou o encontro da “Dança da Saia”, com a professora Marli Campos e alunos. Energia pura, presença, entrega, quando uma professora sai do seu papel “tradicional” e assume outros papéis para estimular e celebrar com seus alunos e educandos. Lindo de ver! Muito forte e potente! Nisso em que eu acredito! Me representa! Arrepiou! Para esses professores e pedagogos aprenderem a se jogar! Saiam das salas de aula, dos escritórios e gabinetes fechados, queridxs, venham pra roda sambar com nós!


A Dança da Saia com a professora Marli Campos e a meninada.
Energia pura! Irradiados!

Toc, toc!

Axé, evoé e merda! Só a arte salva!
Viva a leitura e o teatro empoderadores!

PS: Estarei em cartaz com o espetáculo “Entre a Cruz, a Espada e a Estrada- Como nasce um Artista Sertanejo” nos dias 05 e 06 de outubro, às 20 horas, no Camillo de Jesus Lima! Só serão duas apresentações. Se quiserem conhecer mais um tiquim desse caatingueiro sonhador, vão lá religar conosco! Precisamos nos unir e transformar essa cidade com cultura e arte!

Foto- Luiz Eduardo Fiuza

As fotos dessa postagem foram de várias pessoas que contribuíram durante a programação do Proler 2018, que mandaram para mim. Obrigado. Misturou tudo. Desculpe. Tem foto minha, de Shirley, Jeanne, Ebenilde, Paula e de uma professora de Cercadinho que tirou também.



sexta-feira, 20 de julho de 2018

ACHILES DIVINO E MARAVILHOSO


ACHILES DIVINO E MARAVILHOSO



Ontem, dia 19 de julho de 2018, foi o show de Achiles, cantor natural da cidade de Maracás, no palco de Dionísio no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. É um luxo para um artista da música cantar num teatro, nesse chão que para nós, sátiros e bacantes é mais que sagrado, e reinaugura-lo então, foi mais que especial.

O que falar de Achiles? Para falar de Achiles acabo falando de mim pois caatingueiro e resistente nas artes por essas bandas sei a dor e a delícia de ser o que é.  A empatia com os artistas da região para mim é imediata pois comungamos do mesmo labor e sina.

Prometo que esse textão será breve não vou me alongar, embora quisesse falar mais de um artista desse quilate.

O que mais me impressionou em Achiles e seu show foi a sua autenticidade. O mercado é muito cruel conosco e nos enquadra com uma tarja para que o consumidor saiba o que está consumindo. O maracaense (é assim mesmo que se chama os naturais de Maracás?) foge ao rótulo e comparações.

Você pode até tentar enquadrá-lo nas suas referências e gostos pessoais mas não consegue. Lembro quando Johnny Hooker (não curto, obrigado, de nada) surgiu as pessoas o comparavam a Ney Matogrosso (que discrepância, meu Deus!). O fato de um artista ser gay, baiano, colorido, politizado não enquadra um artista e nem o Achiles em tarjas, a arte é justamente o contrário, arte é para libertar.

Achei tudo tão sútil sem as firulas dos artistas dessa geração, com um gosto de Betânia e Caetano, na poesia sutil para olhos atentos.

Nós que trabalhamos com arte, com estética ralamos muito para que as minúcias sejam descobertas além do todo, penamos muitas vezes pois querem ver o artista colorido, montado, bobo da corte, animador de festas e multidões.

Achei tudo na medida, desde figurino dele, até a cenografia do espetáculo que é funcional e bem executada. Evoquemos a feminidade dos triângulos!Nas escolas esotéricas o triângulo significa a trindade divina que pode ser compreendido como: harmonia, perfeição e sabedoria; início, meio e fim; corpo, alma e espírito. ”

Nós de teatro quando vemos um artista dessa potência pensamos em todos os recursos para ampliar a teatralidade em cena. (Olha o diretor teatral baixando aqui). Lembram quando Gerald Thomas dirigiu Gal Costa no show: "O Sorriso do gato de Alice"? Pura potência teatral! Achilles é teatral mas não afetado, e podia ser afetado, adoro todxs os afetadxs autênticos mas ele fez essa opção nesse dia, nesse show pelo o simples. Ser simples, entendam senhores, é a coisa mais difícil do mundo, só os verdadeiros artistas conseguem tal proeza. 

Essa geração acha que ser artista é sair “fechando” por aí sem discurso e sem talento. E olha que o público nesse dia era predominantemente jovem!
Quem me conhece sabre das minhas questões com essa geração google e z, além das ruas e palcos sou professor (quantas cotas meu Deus!) mas a arte está ai para romper os paradigmas e cumprir seu papel.

Como Malforea disse, no seu blog, quando retornou ao Camillo com a apresentação da Orquestra Conquista Sinfônica, a minha desvirginação - afinal cinco anos de fechado literalmente mata o artista e profissional que vive do seu trabalho- , se fez com a música e preferi que assim o fosse, pois se fosse com teatro, que é a minha linguagem,  chato de galochas como sou teria que ser sublime como o show de ontem.

Acho que Achiles tem que pegar a estrada,  as brs e os céus (cadê o novo aeroporto Vdc Lost?!) para vôos mais altos.

Ser o artista do interior nos é uma sina dolorosa e deixa cicatrizes e comparações aos artistas de fora, da capital, ao longo da nossa carreira. 

Achei lindo começar o show saudando a Janaína e meu Oxóssi quase salta para dançar quando ele cantou evocando-o. Que lindeza! Asé!

Achiles é autentico, é ímpar não tem comparação! Sem calcanhares a vista! E que voz linda e gostosa! 


Falaria mais sobre ontem e de como somos afetados pela arte boa e pelos encontros com a nossa tribo. Ontem revi amigos, parceiros e companheiros da arte e ver aquela casa cheia me traz memórias que fazem parte dos extratos desse teatral arcaico e chato.

Ah, o público consumidor de arte em Vdc Lost ainda precisa se educar!  Temos que fazer uma campanha urgente! As pessoas entram atrasadas, um levanta e senta toda hora! É claro que é música, mas é um espetáculo, tem que respeitar quem ta ali na frente e seus rituais.  Me lembrou das inúmeras vezes que parei os espetáculos de teatro do Caçuá ali mesmo para pedir para a dondoca desligar o celular no meio da peça! Depois não gostam quando falamos da ignorância e mal educação em Vdc Lost! Eu fico puto com isso! Mas a plateia de ontem era do artista. Tava na sua mão! Cantou as músicas dele e dançou com ele no final. Show vivo, sintonia! Aplausos!

Que esta casa volte a ser um local legitimamente cultural e destinado a todxs. Que a arte nos potencialize além da catarse, nos aponte reflexões, melhore nosso humor e dia a dia, nos delicie com momentos epifânicos como estes.

Achiles meu lindo, que os orixás continuem guiando seus caminhos e conserve esta simplicidade e força! Te desejo o melhor e pegue as estradas, meu nego! A Bahia é pequena pra tu. A música, a dança, as artes visuais,  e o teatro devem chegar a um público maior para cumprir seu papel.

Do novo fã e chato teatral com ranço de Vdc Lost. MB

Bora encher o Camillo com teatro e arte boa e da terra! Caçuá 20 anos!  As oficinas voltam! Se liguem mongoiós! Axé, evoé e merda! Só a arte salva!

PS: A produção do show foi uma realização do Coletivo Suíça Bahiana.