sexta-feira, 6 de junho de 2008

TEXTO ENTRE A CRUZ- POR PARTES


Todo mundo coloca seus textos no blog então lá vai: este é do Entre a Cruz a Espada e a estrada- Como nasce um artista Sertanejo. Vou colocando aos poucos.

Depois vem os pesados que são os artigos que criticam ou falam da cultura na Bahia e no interior! Primeiro a poesia, depois a realidade. RS

Espero que gostem!

Abraço!!


O SONHO

Sonharam muitos poetas pela conquista do amor. Outros sonharam para que as guerras acabassem. Muitos, em seus sonhos noturnos, copularam com deusas gregas suas fantasias sexuais mais secretas.
Dizem que a palavra sonho significa, ao olhar num dicionário, seqüência de imagens produzidas pela mente durante o sono, forte aspiração, desejo, ilusão, utopia. Até o doce de trigo feito pela minha tia, frito no óleo Sohia, salpicado de açúcar União e recheado com goiabada Cica, também define esta palavra tão difícil e cheia de nomeações.
Quem sonha se denomina sonhador, e o sonhador é colocado muitas vezes, no sentido de ilusão, preguiça, ingenuidade, acomodação. Sonhar nesse nosso mundo atual está intimamente ligado a nossa sobrevivência. Os sonhos hoje vêm empacotados, com códigos de barra, prazo de validade, e infelizmente, como na vida, todos têm seu preço. Resta saber se o sonhador devotado está realmente disposto a pagá-lo.

PERSONA
Eu tinha de 09 para 10 anos quando recebi a “missão”. Haveria um desfile cívico no centro do povoado, onde morava, e os melhores alunos foram indicados para representar a escola. Eu era um deles. Com orgulho e ufanismo infantil estufei meu peito e fui representar minha escola. Mas o destino já brincava comigo. Na frente do pelotão ia o imponente D. Pedro em um cavalo tão alto quanto se podia olhar. Ele era um menino lindo, de uma brancura ímpar, com cabelos curtos e negros, parecendo a versão masculina da Branca de Neve. Todos queriam estar lá, em cima do cavalo. Até eu. Só que o nosso Branco de Neve era tímido. E num passe de mágica, talvez da minha fada madrinha, acabei em cima do cavalo. A banda tocava num ritmo eufórico e frenético, atiçando meu coração. Ivonete, a que me colocou no cavalo, num gesto místico passou-me a espada e pediu que, ao seu sinal, gritasse, com toda minha força o texto. Nunca vou esquecer a sensação, o fogo no rosto, a altura do cavalo, o olhar do público que me acompanhava num cortejo quase medieval. – Vai! Disse ela com um olhar de esperança. Tremendo e apoiando uma das mãos na cabeça da sela, exclamei:
“- Forjem as armas soldados! Independência ou morte!!”
Desse dia em diante, nunca mais larguei a minha escalibur e assumi de vez a missão de guerreiro pela arte.


O SONHO

Às vezes, os sonhos de alguns podem ser a desgraça de outros. Um simples sapato velho, que era sonho de um Paco Pliniano, trouxe a morte de seu amigo e colega de quarto. Este mesmo sapato, só que de Cristal, anima até hoje, os sonhos juvenis de mocinhas prendadas, que como a do Conto de Fadas, esperam pelo seu Príncipe Encantado, que realizará todos os seus sonhos e juntos, no final, todos serão felizes para sempre.

Se ser feliz hoje é realizar sonhos, muitos brasileiros viverão órfãos desse desejo, pois na nossa sociedade real, sonhar custa caro e a cara do sonho deve ser parecida com as das notas de dinheiro, nesse caso, duplamente real, que circulam por ai, realizando sonhos alheios.
Se ser sonhador é ser cidadão, novamente o mérito de sonhar escapole das mãos sedentas ou das cabeças sonolentas dos postulantes a sonhador, que sem as condições, para no mínimo, ser gente, não podem sonhar. Dizem os especialistas que até os bichos sonham, ora, pois, porque não, os seres humanos não poderão sonhar?
Strinberg sonhou na sua peça teatral, Akira Kurosawa no seu filme, até Shakespeare sonhou numa noite de verão!
Os sonhos de alguns são usurentos, mesquinhos, enquanto de outros simples e empoeirados...

(continua...)

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