quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Poesia e Intensidade de Cleiton, de Euclides da Cunha, na oficina de Teatro.



Carissímos!

Recebi o texto abaixo de um dos participantes da Oficina de Teatro realizada em Euclides da Cunha, o intenso e poético, Cleiton Silva.

O texto traduz a sua intensidade, sendo também, prova de sensibilidade, recepção e talento de um artista interiorano em ebulição, confirmando mais uma vez que a arte não está só na capital, mas aflorada e aflorando por cada canto do estado, sobretudo, no interior!

Bravíssimo!

Por você, Cleiton e por tantos outros, é que vale a pena quer na arte, na arte feita no interior!

Lindo!

Compartilho agora com vocês o texto e orgulho de ser do interior e participado deste momento com eles!



Odisséia teatrante movimenta o Sertão

Por Cleilton Silva*

As velhas cantigas de roda foram rememoradas, os tantos cangaços e bichos fincados nos cercos dos sertões principiaram a cantar e a festejar em uníssono o cordel de rimas e cores, ora cantando a saga de estrangeiros, ora entoando as estórias da sua própria terra.
Eram muitos ali, no edifício do Banco do Brasil, no centro da cidade.
Eram uns tantos que em movimento incorporavam a sutileza das prostitutas ou a voracidade dos coronéis, a beleza de índios, pretos, mulatos, mulheres, travestis, homens, cavalos, pavões, exus e madames.
O Teatro popular cheio de cores e cheiros. Vivo. Seguido pelos ritmos da roda de atuadores, que aos poucos improvisavam relinchos e falas.

Tanto movimento e hibridismo foram resultados da Oficina de Capacitação para Grupos de Teatro do Interior, realizada entre os dias 23 e 26 de outubro de 2008, pela Fundação Cultural da Bahia.
A odisséia era comandada pelo sotero-sertanejo-conquistense Marcelo Benigno, em Euclides da Cunha, pequena cidade localizada a 350 quilômetros da Capital e, que mesmo sem possuir um centro, um teatro municipal ou casa de cultura, abarca vivos segmentos artísticos e, corroborando as estatísticas sobre a cultura da Bahia que colocam o Teatro como segunda maior demanda dos territórios baianos, ali também o maior dos movimentos, nesta cidade, é o Teatro. O teatro vindo das igrejas ou dos pequenos bairros populares. Das ruas ou das caixas. Do cordel ou dos filmes, da antropofagia ou do cristianismo. Mítico e hierático, burlesco e multifacetário, o Teatro popular advindo do Semi-árido pôde manifestar suas forças quando, para os dias de Oficina, teve que unificar os grupos para entender o trabalho colaborativo como fez o Teatro da Vertigem e refazer as suas ações em prol da Arte.

Ali aprendemos (ou reaprendemos) sobre a função do atuador no grupo. Melhor dizendo, aprendemos sobre a não-função do atuador, pois longe das convenções de ser apenas “o receptor” ele é vivo e deve manter relações outras com aquilo que faz, deve manter-se “conectado” com o seu diretor e, seguindo o seu nome de pia, deve atuar, pensar, movimentar-se e não apenas esperar um papel que lhe é dado (que, aliás, num sentido amplo, para os que fazem o teatro, o texto não pode ser um cabresto que condiciona o atuador, mas um elemento a mais que deve ser incorporado ao trabalho artístico) e, apesar dos ritualismos e sacralizações/profanações do Teatro, é necessário que tudo esteja aliado à pesquisa, ao estudo exaustivo que será a várzea da criatividade e sapiência do atuador “amador”.

Uma colcha de retalhos: Alma de Aprendiz, Farinha Seca, Foco, Farrapos, Filhos do Sol, Oxente... Estávamos todos em uno - plural. Cada grupo manteve a sua identidade, até que Baco foi evocado para a roda e tudo se dispersou, e aquilo que se dividia em trupes tornou-se um só objeto, mais amplo e dinâmico. E a permanência das técnicas, cantigas e laboratórios que a nós nos foram dadas por Marcelo Benigno serão o guia para o labor diário no Teatro, pois os que estiveram na tal odisséia continuarão carnavalizando a seca, o sol, a chuva e o seu povo.

* Cleiton Silva é ator, membro do Grupo Farinha Seca em Euclides da Cunha, participou da Oficina de Capacitação para Grupos de Teatro no Interior, promovida pela Funceb, em Euclides da Cunha, no final de outubro de 2008.
* A foto acima é de Cleiton, em exercício cênico, durante a Oficina.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Alfredo fico muito feliz em ver o trabalho que a farinha seca esta realizando ,estou com muitas saudades de todos.
No final deste ano estarei ai para rever todos com muitas alegrias e satisfação.
Meu maior orgulho e que ja fiz parte do grupo.
Um braço atodos.