terça-feira, 20 de setembro de 2016

Antropofagiando em VDC Lost! Autopoieses do indizível e repetitivo: Alguma coisa está fora da ordeml!

Manifesto Antropófago no Putetê- Foto: Underground Pub


Queridxs, evoé! Minha temporada em Conquista tem rendido alguns encontros e aparições afetuosxs, repetitivxs, e/ou instigantes. Transcrevo aqui, duas entrevistas que concedi recentemente. A Primeira a Ana Paula Marques para a Revista Mega e a segunda, a Mariana Kaoos para o Blog do Rodrigo Ferraz: [http//www.blogdorodrigoferraz.com.br/2016/09/20/tome-nota-especial-entrevista-exclusiva-com-o-ator-e-diretor-marcelo-benigno/#more-95345 ]
Ambas registram a memória de antes e de agora, forte, potente, latente e transformadora e dialogam sobre arte, cultura, produção, políticas públicas, Caçuá! Num país que não valoriza a memória, a arte e a cultura, mostrar o que já foi feito, com vistas a fazer mais, fortalece a nossa força e labuta. O Grupo Caçuá de Teatro faz aniversário no mês de agosto e este passa a ser um presente carinhoso de Ana e Kaoos para nós, a cidade e quem participou de tantas histórias pelos palcos do Centro de Cultura e ruas da cidade Mongoió! Nós somos nosso dicurso/arte/vida na prática e não esquecemos de nada que aconteceu e acontece em VDC Lost.
Obrigadx pelo espaço!  Evoé, axé e merda sempre pra nós! Só a Arte salva!
Performance- (Des)Enrolar- Cloto. Láquesis e Átropos


ENTREVISTA- ANA PAULA MARQUES- REVISTA MEGA -Ago/2016


- QUAL SERIA A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA MUNICIPAL DE CULTURA QUE POSSIBILITA A CRIAÇÃO DE UM NOVO CONSELHO E DA DISPONIBILIZAÇÃO DE UMA VERBA PARA EDITAIS NA CIDADE?
Decisiva! Esta questão sempre foi recorrente nas pautas da classe artística local frente à Prefeitura. Desde o Governo de Murilo Mármore, (1989 a 1992, veja quanto tempo!!) que havia um projeto de um edital local para a classe,  mas que nunca aconteceu. A Associação do Teatro Conquistense realizou, inclusive, vários encontros e projetos na tentativa de diálogo com o poder público local, mas em vão! Sem verbas e investimentos na área cultural não há fomentação e continuidade de ações de desenvolvimento artístico e cultural na cidade! Se não olharmos a cultura e a arte como prioridade, como política pública construída em conjunto, não teremos profissionais para trabalharem, porque os artistas e produtores culturais vivem dos seus trabalhos, como qualquer profissional, em qualquer área! O problema que este olhar retrógado que vê a cultura como algo menor dá nisso: falta de investimentos e projetos, ausência de políticas públicas para a cultura e arte, o que significa ausência de trabalhos, e por conseguinte, falta de opções culturais e artísticas para a população, que é a mais beneficiada!

Dionísio, ccom o ator conquistense Mauronildo Rocha, em Performance no Fórum João Mangabeira em Conquista.
Foto : Acervo Pessoal 

- QUAIS FORAM AS CONSEQUÊNCIAS DESSE SISTEMA NÃO TER SIDO IMPLANTADO ANTES, PARA OS ARTISTAS CONQUISTENSES?
De imediato, posso te falar, o êxodo dos artistas e profissionais das artes para outras cidades e capitais; aumento da violência na cidade (me diga quais as opções culturais e artísticas em Conquista?!), empobrecimento cultural e artístico para a região. Não há respeito, continuidade, valorização e diálogo com os profissionais e nem investimentos na área, então como dizer que se quer o desenvolvimento de uma cidade, negando a cultura e a arte?!

"Auto da Conquista"  Teatro Vila Velha- Salvador-BA- 2003- Foto: Marco Peixoto


- VOCÊ ACREDITA QUE A RETOMADA DO CONSELHO MOBILIZARIA OS ARTISTAS NOVAMENTE?
Talvez, pois há muito tempo não acontece nenhum investimento nesse sentido em Conquista, duas décadas é muito tempo de ausências! Não há credibilidade para quem abandona a cultura na sua cidade ou a ver como projetos esporádicos de entretenimento! Centro de Cultura fechado, ausência de projetos contínuos, falta de diálogo e projetos locais.... Nesta geração de agora, virtual, efêmera e globalizada retomar um trabalho cultural em Conquista levaria tempo, investimentos, qualidade e muita mobilização artística e social.

             CLIC! Velório “pretinho básico” da Cultura Conquistense - Artigo que virou
 Manifesto Público na Câmera Municipal de Vitória da Conquista-BA
reivindicando uma política cultural para a cidade- 2001- Foto Acervo Pessoal

[http://movimentomovai.blogspot.com.br/2011/03/ano-2001.html]

- A CRIAÇÃO DO SISTEMA, DE ACORDO COM OS MEMBROS DO GOVERNO MUNICIPAL E ESTADUAL, FOI FEITA COM BASE EM DEMANDAS DOS ARTISTAS, PORÉM, NÃO HOUVE PARTICIPAÇÃO DOS MESMOS. VOCÊ ACREDITA QUE É NECESSÁRIO UM DEBATE SOBRE O ASSUNTO, ANTES DA CÂMARA DE VEREADORES APROVÁ-LO?

Como que os artistas e profissionais não participaram disso?! Que coisa louca e malfeita! Isto procede?! As minhas necessidades e do meu público quem sabe sou eu que trabalho com ele diretamente, não outrem! Esta velha formatação “política”, feita de cima para baixo, sem consulta pública aos interessados, é tão feia e retrógrada que parece a cena da Novela das Nove, Velho Chico, dessa semana, onde um Vereador sensato, interpretado pelo maravilhoso Irandhir Santos, quer aprovar um projeto para a cidade e os vereadores, a mando do Coronel, esvaziam a tribuna para não ter quórum.  Esta história é tão velha, Paula, que em 2001, fizeram uma reunião similar na Câmara de Vereadores em Conquista para Discutir a Arte e Cultura Locais e não nos convidaram!  Resultado: Fomos montadxs nos nossos personagens, invadimos a sessão e fizemos o nosso protesto que gerou o “Velório Pretinho Básico da Cultura Conquistense”. Tá tudo registrado no blog do Movai- Movimento de Valorização do Artista do Interior.  Publica aí para o re/conhecimento das pessoas esquecidas.[http://movimentomovai.blogspot.com.br/2011/03/textos-e-artigos-do-movai.html]. Pois de tanto lutar, andar, trabalhar, questionar, os artistas e profissionais da arte em Conquista estão cansadxs! Triste Bahia! Triste Conquista! Sem Cultura e arte não há desenvolvimento de lugar algum!
“Um povo que não ajuda e não fomenta o seu teatro, se não está morto, está moribundo.” Garcia Lorca

"Bufões gregorianos e a velha história de sempre"
Artigo publicado no Jornal A Tarde- 25/10/2007
Manifesto Bufão na Conferencia Municipal de Cultura em Vitória da Conquista-BA

Manifesto Bufão-  Epílogos- Gregório de Matos
"O que falta nessa cidade?... Verdade."


ENTREVISTA- MARIANA KAOOS- 
19 de Setembro de 2016- Sertão da Ressaca- Bahia


1- Como você pensa a questão das artes cênicas em Vitória da Conquista nos dias atuais? O que falta, o que transborda?

As artes cênicas em Conquista estão inseridas num cenário artístico e cultural que envolve outros elementos, que formam uma cadeia produtiva fundamental: Investimento, Público, Espaços e Profissionais da área: os artistas- que são os fazedores; e os gestores e produtores culturais, que movimentam a área. Em Conquista esses quatro elementos andam separados e só juntos podem fomentar a arte e cultura numa cidade. 
Manifesto Bufão - I Conferência Municipal de Cultura de Vitória da Conquista-BA-  2007- Foto: J. C. D' Almeida

Há também um recorrente problema na Vila Imperial Conquista, a falta de referência dessa nova geração, que costumo chamar de geração google: da citação colada da internet descontextualizada da prática e vivência no seu corpo/discurso. Então, para quem se basta na internet, nos canais a cabo, na fachada de descoladxs e modernxs, para que serve a arte e a cultura fora das telas cybernéticas de um mundo perfeito? Não faz diferença ter ou não. Atualmente o rio de Tebas Conquistense está seco, não trasborda e a morte é certa... Falta respeito, valorização, investimentos, zelo, afetos, encontros. Transborda de entidades, artistas e fazedorxs que sucumbem seu fazer a falta do óbvio.

Grupo de Teatro da Uesb- Intervenção Cênica
Vitória da Conquista- Bahia
Acervo do Grupo
Grupo de Teatro da Uesb- Saída de Personagem- 1998
Vitória da Conquista- BA

2- É obrigação do poder público pensar em viabilizar instrumentos para a difusão cultural? Como seria possível impulsionar a arte em VCA através dos poderes públicos?

Sim, é obrigação do poder público viabilizar e investir em formação cultural em suas cidades. Vou baixar meu lado acadêmico e trazer nessa conversa Albino Rubim, professor e pesquisador da Ufba e ex Secretário de Cultura da Bahia quando diz: “As políticas culturais devem compreender esse panorama como um sistema em sua totalidade articulada: 1. Criação, invenção e inovação; 2. Difusão, divulgação e transmissão; 3. Circulação, intercâmbio, trocas, cooperação; 4. Análise, crítica, estudo, investigação, pesquisa e reflexão; 5. Fruição, consumo e públicos; 6. Conservação e preservação; 7. Organização, legislação, gestão e produção da cultura. ” Como se vê é uma cadeia de ações envolvendo vários atores sociais e entidades, neste mercado da Cultura, se não há um olhar especializado direcionado para a área não haverá produtos!


"Ide, Ó Logia, Vá buscar o Seu Destino"- 2001-
Arte: Marcelo Lopes

Nas terras brasilis as políticas culturais são consideradas políticas sociais e a presença governamental é recente, o ponto forte é o Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas, na gestão do ministro Gustavo Capanema (1934-1945), só para contextualizar um pouco o papo, pois os ignorantes acham que nós, artistas e profissionais da cultura não contextualizamos nosso labor! Mas as contribuições de Mario de Andrade, salve grande mestre, com a criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Instituto Nacional do Livro, o Instituto Nacional de Cinema e o Serviço Nacional de Teatro, além de sua passagem pelo Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, (1935 a 1938) é considerado, pelos pesquisadores, o momento que abriu e expandiu as políticas culturais no Brasil, e por ai vai...
"Teatro de rua revela aspectos da cultura regional"
Matéria Jornal Diário do Sudoeste-25 e 26/01/2003- Joísa Ramalho
"Jovens levam teatro para a feira" Matéria Jornal A Tarde- 03/02/2003
Celino Souza
"O Cordel do Pavão Misterioso" Amostrão Vila Verão 2004-
Teatro Vila Velha- Salvador-BA
http://blogdovila.blogspot.com.br/2004_01_01_archive.html ]
"O Pavão" na Mostra Sesc de Artes Pelourinho 2006-
Cruzeiro de São Francisco- Pelourinho- Salvador-BA
http://blogdovila.blogspot.com.br/2006/09/mostra-sesc-de-artes-o-projeto-do-sesc.html ]
Edital 001/05 Projeto Circuladô Cultural 2005- FUNCEB-
Santo Amaro da Purificação- BA

"O Cordel do Pavão Misterioso e a Cerca- Projeto Teatro de Cabo a Rabo-
 Teatro Vila Velha- Salvador- BA- 2003

As Políticas públicas culturais mudam definitivamente uma cidade, seja pela Economia Criativa impulsionada, seja na arte como formação pessoal, artística e cidadã, ou na profissionalização, através de cursos e oficinas, seja através da fruição e contato com obra de arte in loco, através de suas variadas expressões... Veja o Recife por exemplo, é conhecido pela sua cultura popular! Pra não ir tão longe Feira de Santana e Ilhéus tem investimentos na arte e artistas locais, através de ações do poder público, o que em Conquista, cidade de Glauber Rocha e Elomar, por ironia de Deus ou do Diabo na Terra do Sol, nada acontece! Que vergonha, Meu Dionísio! 
Provimentos Culturais Conquistenses- 2013
Muito antes do Fora, Temer!
Se tivéssemos editais públicos e uma política cultural de investimentos e não de eventos, toda a cidade se beneficiaria! Não pode é ter essa mentalidade que profissional das artes é mendigo! Que Artista não deve receber pelo seu trabalho, ou receber muito pouco! Falta valorização, respeito! Artista trabalha muito, tem contas a pagar, aluguel, despesas, caga, mija, come, tem filhxs, consome, vive do seu trabalho, que é digno com qualquer outro!

"100 Conquistas, Sem Vitórias para a arte conquistense! CLAP! CLAP! CLAP!"
Artigo publicado no Jornal Diário do Sudoeste- 02 e 03/11/2002

“Uma política pública é feita de presenças e ausências. Uma vez que o Estado não atua em determinada área, imagina-se que esta seja secundária, não fazendo parte das prioridades das políticas implantadas. Partindo desse pressuposto, é possível perceber que apesar da formação de gestores e produtores culturais no Brasil ser atualmente um dos grandes desafios postos diante do poder público, em seus três níveis, ainda é uma ação continuamente preterida perante tantas demandas."  Leonardo Figueiredo Costa.

""O Putetê"- Só a Antropofagia nos une!

Material de Divulgação " O Putetê".
http://revistagambiarra.com.br/site/o-putete-festa-contara-com-performance-inedita-do-ator-marcelo-benigno/ ]
Ditirambo Antropofágico Anunciador do Putetê:
"Tenho fome de me tornar em tudo que não sou!
Extra, extra! Em tom paradisíaco anunciamos que o deus grego, pai das artes, do gozo e dos vinhos, Dionísio, soube da grande novidade dos trópicos e resolveu descer por aqui, nessas terras tupiniquins do matriarcado de Pindorama. Ao ouvir o burburinho de que não existe pecado ao sul do equador, de sua boca farta e voraz pode-se ouvir o seguinte balbuciar: Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria, mãe de Deus!
Trajando apenas uma pena que cobria a parte mais importante de seu corpo, ou seja, seus olhos, convidou algumas de suas Ninfas para a tão calorosa viagem. Como soube que aqui, nessas férteis e verdejantes terras tudo que se planta cresce e floresce, Dionísio trouxe na mala sementes de alguns de seus mais valiosos bens: Semente de conceito, de performance, de arte, de cultura, de teatro. Que abundância, meu irmão!

Bom, para a surpresa de Dionísio que, ao fincar seus pés nesse misterioso país del amor passou a se chamar Marcelo Benigno, yes, nós temos banana! Nós, equipe de produção putetística iremos receber com muita honra e satisfação a presença desse maravilhoso diretor e ator teatral nessa edição de retorno do Putetê. Já podemos adiantar que só a antropofagia nos une, socialmente, economicamente, filosoficamente e que performances vão rolar para o nosso deleite em berço esplêndido.
No mais, tudo na mais perfeita paz!"
Evento: O Putetê - Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Local: Underground Pub
Horário: 21h

3- Recentemente você participou da festa O Putetê, apresentando uma performance antropofágica permeando por identidades brasileiras. Qual a importância de inserirmos, dialogarmos com as mais distintas vertentes artísticas? Para você existe diferença entre produção de entretenimento e produção cultural?

A cultura e arte estão presentes em todos os lugares! Nas grandes capitais os eventos de entretenimento focam na arte como diferencial, ao ponto que se diverte e participa de uma experiência estética. O mercado de cultura é amplo, a diferença para mim é o que você quer como produtor cultural: Você só está interessado na cultura como mercadoria capitalista consumista ou vê a cultura como formação e transformação das pessoas?! 

Um produtor pode só oferecer entretenimento comercial, afirmando oferecer cultura e arte, quando na verdade, seu interesse é meramente o lucro. Salve Gramsci, Canclini e Bourdieu! Costumo sempre falar que cultura e arte não é meramente entretenimento, é transformação, e se os poderes públicos, que são responsáveis por mobilizar e oferecer o melhor a sua população, não o fazem, os empresários do ramo entram em ação! Mas se tratando de Conquista isso nem acontece muito porque a profissionalização é limitada por aqui, nos espaços, na pouca mão de obra especializada, no entender o mercado...

Chegada de Láquesis a Câmara Municipal de Conquista-
Performance- (Des)Enrolar- Cloto. Láquesis e Átropos- Foto Maciel Jr.
http://revistagambiarra.com.br/site/sistema-municipal-de-cultura-sera-votado-em-30-dias-afirma-comissao-de-legislacao/]

Performance- (Des)Enrolar- Cloto. Láquesis e Átropos- Foto Natália Silva

Se eu passar um rider técnico de teatro, por exemplo, com um mapa de luz e som para montagem de um cenário, quantos profissionais saberão lê-lo e executá-lo? Uma montagem de uma exposição de artes plásticas com instalações específicas, um material necessário para fazer uma cena ou performance em dança... etc. Acontece coisas por aqui que você não acredita, aí quando me recurso a participar de determinados eventos acham que sou chato, mas sou mesmo, eu não brinco em serviço, sou profissional da cultura cansado de Guerra já, de Caçuá são quase 20 anos, comecei a fazer teatro com 9 anos de idade, vivo disso! 

Certa vez um espetáculo do Palco Giratório veio para Conquista com uma produção bastante especifica, o encarregado local, desconhecendo e menosprezando a importância disso, não fez a produção adequada e o resultado foi catastrófico na apresentação em espaço aberto. Tinha um Secretário de Cultura aqui em Conquista que nem sabia o que era DRT.... É para rir ou chorar? Pessoas são empoderadas para uma área que desconhecem totalmente, aí não admito fulanx ou sicranx que é de outra área, meter o bedelho na minha, sem conhecer, e dizer quais são as minhas necessidades e o que eu preciso, é mole?! Uma vergonha! 


Audição do Caçuá 2007
Caio Bernardes como "Gato Malhado" e Daniela Lisboa como "Andorinha Sinhá"
Arisson Sena como "Gato Malhado" e Karina Botelho como "Andorinha Sinhá"
Prêmio Estímulo da FUNCEB para Montagens de Pequeno Porte- 2006
Uma Andorinha só não faz...
Uma adaptação popular, sertaneja e catingueira do texto de Jorge Amado:
 "O Gato Malhado Malhado e a Andorinha Sinhá". Caixa e Rua
http://www.uesb.br/ascom/ver_noticia_.asp?id=2309 ]

Peço licença e faço minhas agora, as palavras do mestre Gilberto Gil, no discurso de posse como Ministro da Cultura, em 2003. Kawó Kabiesilé!!

 “E o que entendo por cultura vai muito além do âmbito restrito e restritivo das concepções acadêmicas, ou dos ritos e da liturgia de uma suposta “classe artística e intelectual”. Cultura, como alguém já disse, não é apenas “uma espécie de ignorância que distingue os estudiosos”. Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos. Desta perspectiva, as ações do Ministério da Cultura deverão ser entendidas como exercícios de antropologia aplicada." Gilberto Gil.


Prêmio Cultura VIVA 2007- Ministério da Cultura-
Projeto Arte para a Comunidade- Grupo Caçuá de Teatro -2000.


E quem arremata esta prosa é a filosofa Marilena Chauí: “Um dos instrumentos mais poderosos e eficazes da legitimação do Estado contemporâneo é a política cultural e a indústria cultural (...) porém, a política cultural pode oferecer-se como política nacional que interessa à nação e à sociedade como um todo, enquanto a indústria cultural se oferece diretamente determinada pelo jogo do mercado e da competição. A política cultural pode aparecer como incentivo à produção cultural, enquanto a indústria cultural se baseia exclusivamente no consumo dos chamados bens culturais (CHAUÍ, 1984).

"Entre a Cruz, a Espada e a Estrada- Como nasce um Artista Sertanejo"
Festival de Cenas Curtas. Grupo Galpão- Belo Horizonte 2005
4- Temos visto o teatro ser deixado de lado em inúmeros cantos. Não se valoriza os artistas, tampouco os espaços. Em Salvador o teatro Vila Velha está quase fechando as portas. Em VCA, há mais de três anos que o Centro de Cultura está inviabilizado. Como a própria população pode atuar em prol da cena, cobrando mais investimento dos espaços e valorização dos artistas?

A ausência de políticas públicas culturais afeta, definitivamente, a relação entre formação e profissionalização nessa área. Se a população não tem acesso a arte e cultura não vai sentir falta. Nesses últimos anos estamos vivendo no Brasil uma onda conservadora que tenta ressarcir tudo o que é diferente e foge do metro. Há um emburecimento e uma dominação religiosa das pessoas que abitola e castra, sobretudo, em relação a arte, cultura e diversidade. Nem a cultura popular, que é algo tão presente e natural na vida das pessoas, sobretudo, no meio rural, (vivemos numa caatinga onde a população rural é imensa e invisível e não numa Suíça Baiana!) é valorizada e incentivada. 

Prêmio Jurema Penna- FUNCEB 2008- Circulação de Espetáculos Teatrais na Bahia

Por essas bandas, Kaoos, tudo vira manobra política partidária, tudo é promessa, mentira e hipocrisia. Se a população não tem consciência política a arte vira isso, ou entretenimento caro destinado a quem pode pagar ou consumir, ou discurso vazio dos “pseudos artistas locais” que oferecem sua arte/mercadoria despolitizada de qualquer discurso emancipador e de qualidade gosto questionáveis numa bandeja de prata... E se tratando do cenário e dos gestores no Arraial da Ressaca, as perspectivas não são as melhores... É o velho ditado: Em terra de cego quem tem um olho só é rei!

Nessa minha temporada recente em Conquista, entre a cruz, a espada e a estrada, sempre, fiz algumas pequenas intervenções e trabalhos que destaco: 

Mortícia e a Formação Continuada para Profissionais da Educação em Conquista- Foto Ellen Aguiar

-Performance na Sessão na Câmara de Vereadores sobre o Sistema Municipal de Cultura (só estavam presentes 3 vereadores, para você ter uma ideia); [http://revistagambiarra.com.br/site/sistema-municipal-de-cultura-sera-votado-em-30-dias-afirma-comissao-de-legislacao/]

E recentemente o evento do Putetê, que foi lindo e tem uma proposta antropofagicamente bastante interessante:[http://www.blogdorodrigoferraz.com.br/2016/09/14/festa-de-discotecagem-ressurge-em-vitoria-da-conquista/]

Performance Gastronômica:
" Só curto Antropofagia se como tijolo com ketchup!" no Putetê- Foto Elecktra

"Nas ausências inomináveis e cansativas do (re)dizer Marcelo Benigno continua a prestar um serviço resistente à Vitória da Conquista e que é nublado apenas pela carência de uma plateia formada. Somos menos de já fomos um dia e a capacidade de decodificação da obra de arte em suas modalidades descritivas, técnicas ou mesmo semióticas tem se tornado rarefeita. Quem não lê, vê ou assiste não apreende referência e decodifica com visível dificuldade, impossibilitado de receber o que é entregue de bom grado: a experiência estética. Por que quanto mais lemos mais entendemos o que lemos. Se lemos pouco entendemos. Não há plateia sem contato com a arte. E não há arte sem fomento. Reverência também à arte de Elecktra resistente nesta cidade que lhe deve mais carinho e espaço. Evoé queridos!"  Eduardo Nunes. 17 de Setembro. Facebook

Ontem, dia 19 de setembro, fui em mais uma reunião, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima (ainda fechado), da Câmara Temática de Cultura, envolvendo o Território de Identidade de Conquista e região. Pra mim, o mais forte da noite foi sentir no meu flashback da memória e no meu corpo o quanto aquele espaço me afeta como pessoa, cidadão e artista, e o como me formou, e a tantxs outrxs que experienciaram comigo tudo que fizemos ali!

Cada parede, cada espaço, cada projeto, cada intervenção do MOVAI, cada protesto nas ruas e no poder público, cada artigo nos jornais, cada edital e prêmio ganho, com tanta gente pulsante que respirava, estudava, praticava e vivia arte e teatro para os seus e sua comunidade! Vê aquilo morto, vazio, amorfo... é a imagem mais forte e representa tudo isso que estamos falando.  Torna-se repetitivo as coisas em Lost VDC, pois a estagnação é notória e só quem vivenciou o cenário cultural e a potência do teatro (e das outras artes) em Conquista, sabe o que estou falando! 

"Auto da Conquista"- Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima-
Vitória da Conquista-BA- 2000
Ninguém fica na cidade! Virou uma cidade fantasma amaldiçoada no seu signo de escorpião com sangue mongoió derramado. Quem tem emprego “civil” noutras áreas vive dele e não de arte e cultura! Na terra das ausências, os artistas morrem, mudam, migram e o ciclo fecha e acaba, assim como a cortina vermelha do espetáculo. Se a população não se apropriar dos espaços públicos tomando-os para si, esse clima fúnebre permanecerá. No espetáculo funesto das eleições, em ano de golpe político no país, o óbvio é preludio do que vem por ai. Gostaria de ser otimista e encerrar o papo “para cima”, em clima solar, mas meus anos de janela e experiência dizem o contrário.
Agradeço o espaço Mariana e encerro com um pensamento de um dos meus mestres evocado e enraizado em meu corpo/poética/discurso. Andemos! Axé, Evoé e Merda pra nós! Só a arte salva! “Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.” Ariano Suassuna.


Transmutação da Carne de Ayrson Heráclito- Terra Comunal : Marina Abramović + MAI. 2015. Performance. Sesc Pompeia- São Paulo. Foto- Caio Toledo
[https://www.youtube.com/watch?v=LDkKj-hgvcU]
http://blogdofabiosena.com.br/v2/noticias/cotidiano/transmutando-em-carne-arte-e-vida-entre-o-local-nacional-e-internacional-santo-de-casa-so-faz-milagre-fora-mesmo/]
     Transmutação da Carne de Ayrson Heráclito- Terra Comunal : Marina Abramović + MAI. 2015. Performance. Sesc Pompeia- São Paulo. Foto- Caio Toledo
[https://www.youtube.com/watch?v=ZXMANizUO1s]
[http://revistagambiarra.com.br/site/marcelo-benigno-nao-queremos-fazer-arte-so-pra-entreter-as-pessoas-a-arte-pra-gente-e-formacao-criacao-e-consciencia-2/]


      

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