quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ENFIM, FORMATURA E DISCURSO!!!!






Meu Povo,
DEPOIS DAS POLÊMICAS QUANTO AO MEU DISCURSO E AS POSSÍVEIS VERSÕES E QUESTIONAMENTOS SOBRE O OFÍCIO DO ARTISTA, ATOR, DIRETOR OU PROFESSOR DE TEATRO, PUBLICO AQUI A VERSÃO LIDA NA MINHA COLEÇÃO COM A COLEGA XANDA FONTES.
NÃO É MEU MELHOR TEXTO,E NEM REFLETE UMA VISÃO UNICAMENTE PARTICULAR, MAS NESTA OCASIÃO QUALQUER POSICIONAMENTO MAIS POLÍTICO OU ENGAJADO TALVEZ NÃO FOSSE OPORTUNO...
ENTÃO, EI-LO ABAIXO:

Discurso Final
Saudações a todos os presentes, à mesa e aos formandos,

Já rascunhei este discurso algumas vezes e hoje enfim, depois de tanto penar, eu penei mas aqui cheguei!
Quero então fazer uma oração de passagem breve, sem o caráter moralizante ou meramente festivo que deveria ter um discurso nesta ocasião.
Pata tal, quebrando os protocolos, pois a arte serve justamente para isso, quebrar os protocolos que nos enquadram, não pretendo fazer este discurso aqui sozinho, afinal, teatro é uma arte de coletividade e longe de mim de querer ser uma diva sôfrega e languida.
Vou precisar da ajuda de TODOS vocês.
Afinal, segundo Grotowski, o conhecido encenador polonês, para haver teatro somente é necessário a presença de dois elementos principais: O Ator e a Platéia, sendo eles os elementos mais importantes para seu teatro e poética, VOU CASAR Grotowski com a sabedoria de todos os Mestres e Mestras populares e com a ajuda energia de todos vocês, no ritmo POPULAR, abriremos nossa fala.

(Pede a participação do público na marcação do ritmo do cordel)
Licenças eu vos peço agora
Santos, santas e poetas,
Pecadores e cristãos
Sou um contador da roça
Conto causos do Sertão
Meus direito eu reconheço.
E fazendo a louvação
Pra artista e professor
Diretor ou educando
Licença eu peço de novo
Pra esse discurso eu orar
Nos poder de Deus e da Virgem Maria
Santo Expedito, Santa Luzia,
Nossa Senhora e Iemanjá!

Falar das Artes Cênicas dionisíacas ou artodianas, antigas e atuais, revolucionárias ou meramente comerciais é um grande desafio. Desafio porque fazer arte hoje no nosso país é algo difícil, por uma série de fatores que vão desde a falta de apoio necessário, às leis de incentivo e capitação de recursos sempre escondidas ou segredadas a poucos, ou ao nível cultural do nosso povo que ainda está atrelado aos meios de comunicação e à mídia padronizada que dita tudo... Disso, todo mundo já sabe, mas ser um artista vocacionário é estar além das falsas aparências que rodeiam os bastidores dessa arte.

Afinal, "A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas a de abrir portas fechadas” Ernerst Fischer.

Por essa, e tantas outras razões, esse ofício merece todos os aplausos quando pretende lutar por uma arte que leva às pessoas uma mensagem de transformação, reflexão e, sobretudo, de questionamento, afinal, arte não é algo que só serve para divertir em ocasiões de lazer ou nos momentos de folga com os amigos mais chegados.

A Arte é algo mais sério do que imaginamos e freqüentemente me pergunto e vivo me questionando, acho que o tempo inteiro, sobre o que me moveu e move a me arriscar por entre os seus caminhos.

Lembro- me bem das recomendações do meu pai, do olhar de minha mãe, ou de uma cobrança de todos, quanto a minha incursão pelo teatro, dos conselhos e incentivos dos amigos ou daqueles típicos comentários de quando estaria fazendo uma novela de televisão para realmente me transformar num artista de verdade.

Acredito numa arte mais relacionada com a vida das pessoas e que esta contribua com sua sensibilidade para debater sobre as questões sentimentais, filosóficas e existências de nós, seres humanos, e tive ao longo da minha carreira oportunidade para exercitar isso. Vivemos complicados em entender a nossa história, os nossos problemas e, principalmente, a nossa sobrevivência, que nesses últimos tempos, anda cômica, trágica, tumultuada, competitiva e muitas vezes irracional.

Às vezes tento até não me importar, mas percebi em mim mesmo que não consigo ser feliz sozinho. É verdade, não to mentindo, isto tem me incomodado de tal maneira que fico pensando e tentando entender. Foulcalt já fala das relações de poder que vivemos a cada dia no nosso cotidiano.

Esta eterna corda bamba de possibilidades e questionamentos é que move o artista na busca por respostas, respostas as perguntas que nos incomodam tanto, que fazem parte do jogo, do risco e das indagações que sempre estarão presentes como a violência, a desigualdade, o consumismo exagerado dos nossos dias, o preconceito de toda e qualquer forma, o egoísmo e solidão do nosso tempo, como divide comigo e também chamo para esta roda o nosso dramaturgo santista Plínio Marcos, com quem tive o prazer de trabalhar!

“Por mais que as cruentas e inglórias batalhas do cotidiano tornem um homem duro ou cínico o suficiente para ele permanecer indiferente às desgraças ou alegrias coletivas, sempre haverá no seu coração, por minúsculo que seja, um recanto suave onde ele guarda ecos dos sons de algum momento de amor que viveu na sua vida.
Bendito seja quem souber dirigir-se a esse homem que se deixou endurecer, de forma a atingi-lo no pequeno núcleo macio de sua sensibilidade e por aí despertá-lo, tirá-lo da apatia, essa grotesca forma de autodestruição a que por desencanto ou medo se sujeita, e inquietá-lo e comovê-lo para as lutas comuns da libertação.
Os atores têm esse dom. Eles têm o talento de atingir as pessoas nos pontos onde não existem defesas. Os atores, eles, e não os diretores e autores, têm esse dom. Por isso o artista do teatro é o ator.
Mas o ator tem que se conscientizar de que é um Cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva,
O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade e, sobretudo um transbordamento e amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de suas personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidades padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem.”

Falo então, do teatro que nos mostra, à luz da emoção dos atores, ao vivo e a cores, das realidades imaginárias, possíveis e reais de personagens que refletem aquilo que somos ou gostaríamos de ser, que nossa persona admira, apaixona, inspira ou odeia.
Me emociono com o amor arrebatador de Julieta por Romeu.

Odeio Medéia, que por vingança a Jasão, mata seus próprios filhos. Admiro a coragem de Antígona e as escolhas de Mãe Coragem ao perder seus filhos na Guerra.
Vivo num sonho de uma noite de verão e me apaixono por engano pela rainha das fadas. Julgo Édipo, como coro, a vagar cego na busca do seu destino. Amo Arandir, Selminha e todos os Rodrigueanos e esculhambo-os, mandando-os resolver seus problemas com Plínio Marcos, que junto com Vianinha, escreverão um final bem brasileiro para a nossa tragédia.

Sou devoto de Brecht e Boal e seguidor fervoroso das cartilhas de Stanislavski. Escuto atencioso as orientações de Sérgio Farias e Marfuz; o olhar e a vozes de Iami Rebouças Hebe Alves e com a sabedoria dos Chechuccis, Dedas, Cunhas além dos novos cariocas baianos, o casal vinte: Ângela e Daniel, e de Jacian e Gláucio e que se multiplicam numa troca que pode ser conhecida como aprendizagem, carinho ou amizade.
Aplaudo o meu aluno numa performance teatral na escola e vibro com Suzy Spencer, Bira e Seu Zé pelos corredores, na biblioteca, na esquina ou chafariz...

Sofro com meus colegas, com suas vidas e problemas de cada dia, com Xanda e sua jornada dupla como mãe, atriz, estudante, trabalhadora; com Daniel Rabelo, que adiantou do seu dinheiro o pagamento desta formatura, inclusive o meu; com Gilson e a sua descoberta do ensinar em sala de aula; com Marques e nossa loucura pelo teatro de grupo; com Yoshi, aquele menino lá de Conquista, cumprido, aluno, colega e amigo, que hoje cola aqui comigo; de Geniffer e Victor hoje na seleção do mestrado; e todos os que renunciaram a muita coisa para estar aqui hoje, vitoriosos, bonitos, cheirosos, e arrumados!

Se fizermos as escolhas certas a vida nos dirá, mas não é preciso olhar muito para perceber que todos acertaram em cheio.

Eu sou arriscado por falar, pois sou do povo, das ruas e praças, minha arte popular pulsa em mim e o meu lado acadêmico vive brigando com o meu popular.
Meu Jeca, por exemplo, acha mais importante a roda, pois, nela todos são iguais,
O meu acadêmico gosta mais das hierarquias, do púlpito, menções e títulos,
Meu acadêmico só escuta musica clássica, vive rodeados de livros e amigos cultos,
Meu Jeca canta cantiga popular, dança o arrocha e o forró.

Meu Jeca canta: (canta com o público)
Ciranda Cirandinha
O cravo brigou com a rosa
Eu morava na areia
Oh Deus salve o Oratório!

Eta Diá! Olha eu filosofando no meio da formatura?
Mas como discurso é coisa de gente fina e culta, vou encerra meu discurso estradeiro para falar:
Amo o teatro com todas as suas dificuldades e prazeres, e principalmente, amo os personagens e as pessoas, que através desta arte, tiram a máscara cansada da realidade para sonhar com um mundo melhor, feliz e cheio de possibilidades.
Você também pode tentar!
Deixe esta cadeira e entre na roda com a gente!
O terceiro sinal já tocou... O espetáculo já vai começar e o protagonista desta história é você!

“DIREI DO SENHOR ELE É MEU DEUS, MEU REFÚGIO, MINHA FORTALEÇA E NELE CONFIAREI!” SL 91



Meu cordel estradeiro
Meu cordel do sertão
Invadiu a academia,
Olha que situação


Vou me despedindo
Paz e a amor no coração
O sol nasce para todos
Boa sorte aos meus irmãos!

Merda, Okê Aro, Evoéh!

mb

Um comentário:

Dona Sra. Urtigão disse...

Cheguei aqui por acaso e logo fiquei feliz, então para voce tambem, muitas felicidades e uma ou outra pedrinha, pois sem elas nós pobres humanos não damos conta de quanto somos felizes... só com a ameaça de não o sermos. Sucesso. Merda