sábado, 10 de maio de 2008
FEIRA DE SANTANA
Apresentando no Amélio Amorim e na Feira de Feira de Santana
Depois da apresentação no Espaço Xisto, a sintonia entre os membros da equipe era tamanha que os erros técnicos notados na primeira etapa do projeto foram praticamente nulos na etapa de Feira de Santana.
Contamos também com o apoio muito bem vindo de alguns artistas da cidade, amigos de Benigno. Isso foi o que pra mim ficou mais forte nesta etapa, já que ocorreram alguns problemas que infelizmente ainda são comuns aos Centros Culturais da Fundação Cultural.
O primeiro deles em se tratando do Amélio Amorim é a sua localização. Muito distante do Centro impossibilita o público de classes menos favorecidas (principal alvo do projeto e do espetáculo) comparecerem ao teatro.
O segundo e grande problema foi de administração: Nos dois dias de temporada não havia nenhum funcionário do Centro de Cultura (salvo o vigilante) para nos assessorar no horário marcado da apresentação.
O primeiro dia foi marcado por uma ausência quase que total de público. Pesou menos na nossa consciência ao sabermos que vários outros espetáculos de Salvador que fizeram circulação dos projetos da Funceb também enfrentaram o mesmo problema de falta de público, tanto no ano passado quanto neste ano.
No segundo dia de apresentação o público foi melhor, mesmo assim o quadro não foi tão diferente. Em mim ficou a sensação de frustração ao ver um teatro que estruturalmente está muito melhor conservado que o do Camilo de Jesus Lima em Vitória da Conquista (apesar de também não ter iluminação própria tendo que ser locada) não conseguir ter uma platéia cativa. Logo em uma cidade muito grande e com um ótimo potencial econômico, assim como Vitória da Conquista.
Para atenuar esse quadro fomos agraciados com a sábia idéia de Benigno de anexar ao projeto uma apresentação na feira livre da cidade. Outro momento digno de ser objeto de estudo etnocenológico.
Nos arrumamos na casa de dois grandes artistas feirenses. Por sinal muito acolhedores. Montado em uma Burrinha, símbolo de uma das grandes manifestações populares do recôncavo baiano, o contador e nós músicos partimos em direção a feira livre. Era um Ceasa enorme, com muitas bifurcações. Gente inexperiente pode até se perder dentro daquele pequeno universo.
Os comerciantes e consumidores se misturavam enquanto ficávamos em cortejo de uma ponta a outra da feira procurando encontrar um lugar mais aberto para podermos apresentar. Ledo engano de nossa parte. O lugar era tão cheio e apertado que não existia nenhuma área mais ampla. E então decidimos apresentar nossa “fuzaca” ali mesmo.
O público era uma grande sensação. Muitos deixaram os seus afazeres por alguns instantes para observar o que estava acontecendo e se divertiam com nossas peripécias e canções muito conhecidas dos mesmos. Outros faziam questão de continuar seu trabalho aproveitando a oportunidade para “vender o seu peixe” no aglomerado de gente que se amontoava. Repetidas vezes tínhamos que abrir caminho para carregadores com muito peso ou com seus carros de mão circulando pra lá e pra cá para ganhar o pão de cada dia. Algumas senhoras mal humoradas (muito parecidas com o estereótipo de protestante) nos tratavam com rispidez julgando que atrapalhávamos suas vendas ao nos posicionarmos na frente de suas barracas, enfim uma multidão de tipos e de seres humanos que dificilmente se pode transcrever em palavras. A maioria se divertia com nossas cantigas e com a burrinha que conquistava todas as crianças que por ali passavam.
Ficamos nessa sinergia por um bom tempo. O sol castigava a nossa pele, mas nos divertíamos tanto quanto os espectadores. Só decidimos acabar quando Fabiana, exausta por conduzir a marcação de sua zabumba de cinco quilos, Jeferson com o Violino, eu com o triângulo e Benigno com a Burrinha trocamos os olhares, e, sem precisar utilizar a palavra decidimos que era chegada a hora. Se não fosse aquele sol do meio dia estar tão forte, ficaríamos ali a tarde toda proporcionando e sendo proporcionados com aquela sensação de liberdade e felicidade.
Exaustos da última jornada, neste mesmo dia regressamos as nossas casas para voltar ao trabalho cotidiano.
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