ACHILES DIVINO E
MARAVILHOSO
Ontem, dia 19 de julho de 2018, foi o show de Achiles,
cantor natural da cidade de Maracás, no palco de Dionísio no Centro de Cultura
Camillo de Jesus Lima. É um luxo para um artista da música cantar num teatro,
nesse chão que para nós, sátiros e bacantes é mais que sagrado, e reinaugura-lo
então, foi mais que especial.
O que falar de Achiles? Para falar de Achiles acabo falando de mim pois caatingueiro e resistente nas artes por essas bandas sei a dor e a
delícia de ser o que é. A empatia com os
artistas da região para mim é imediata pois comungamos do mesmo labor e sina.
Prometo que esse textão será breve não vou me alongar, embora
quisesse falar mais de um artista desse quilate.
O que mais me impressionou em Achiles e seu show foi a sua
autenticidade. O mercado é muito cruel conosco e nos enquadra com uma tarja
para que o consumidor saiba o que está consumindo. O maracaense (é assim mesmo
que se chama os naturais de Maracás?) foge ao rótulo e comparações.
Você pode
até tentar enquadrá-lo nas suas referências e gostos pessoais mas não
consegue. Lembro quando Johnny Hooker (não curto, obrigado, de nada) surgiu as pessoas o comparavam a Ney
Matogrosso (que discrepância, meu Deus!). O fato de um artista ser gay, baiano,
colorido, politizado não enquadra um artista e nem o Achiles em tarjas, a arte é justamente o contrário,
arte é para libertar.
Achei tudo tão sútil sem as firulas dos artistas dessa geração,
com um gosto de Betânia e Caetano, na poesia sutil para olhos atentos.
Nós que trabalhamos com arte, com estética ralamos muito para
que as minúcias sejam descobertas além do todo, penamos muitas vezes pois
querem ver o artista colorido, montado, bobo da corte, animador de festas e
multidões.
Achei tudo na medida, desde figurino dele, até a cenografia
do espetáculo que é funcional e bem executada. Evoquemos a feminidade dos triângulos!
“Nas escolas esotéricas o
triângulo significa a trindade divina que pode ser compreendido como: harmonia,
perfeição e sabedoria; início, meio e fim; corpo, alma e espírito. ”
Nós de teatro quando vemos um artista dessa potência pensamos
em todos os recursos para ampliar a teatralidade em cena. (Olha o diretor
teatral baixando aqui). Lembram quando Gerald Thomas dirigiu Gal Costa no show: "O Sorriso do gato de Alice"? Pura potência teatral! Achilles é teatral mas não afetado, e podia ser afetado,
adoro todxs os afetadxs autênticos mas ele fez essa opção nesse dia, nesse
show pelo o simples. Ser simples, entendam senhores, é a coisa mais difícil do mundo,
só os verdadeiros artistas conseguem tal proeza.
Essa geração acha que ser
artista é sair “fechando” por aí sem discurso e sem talento. E olha que o público
nesse dia era predominantemente jovem!
Quem me conhece sabre das minhas questões com essa geração
google e z, além das ruas e palcos sou professor (quantas cotas meu Deus!) mas
a arte está ai para romper os paradigmas e cumprir seu papel.
Como Malforea disse, no seu blog, quando retornou ao Camillo
com a apresentação da Orquestra Conquista Sinfônica, a minha desvirginação - afinal cinco
anos de fechado literalmente mata o artista e profissional que vive do seu
trabalho- , se fez com a música e preferi que assim o fosse, pois se fosse com
teatro, que é a minha linguagem, chato
de galochas como sou teria que ser sublime como o show de ontem.
Acho que Achiles tem que pegar a estrada, as brs e os céus (cadê o novo aeroporto Vdc
Lost?!) para vôos mais altos.
Ser o artista do interior nos é uma sina dolorosa e deixa cicatrizes
e comparações aos artistas de fora, da capital, ao longo da nossa
carreira.
Achei lindo começar o show saudando a Janaína e meu Oxóssi
quase salta para dançar quando ele cantou evocando-o. Que lindeza! Asé!
Achiles é autentico, é ímpar não tem comparação! Sem calcanhares a vista! E que voz linda e gostosa!
Falaria mais sobre ontem e de como somos afetados pela arte
boa e pelos encontros com a nossa tribo. Ontem revi amigos, parceiros e
companheiros da arte e ver aquela casa cheia me traz memórias que fazem
parte dos extratos desse teatral arcaico e chato.
Ah, o público consumidor de arte em Vdc Lost ainda precisa se
educar! Temos que fazer uma campanha urgente!
As pessoas entram atrasadas, um levanta e senta toda hora! É claro que é música,
mas é um espetáculo, tem que respeitar quem ta ali na frente e seus rituais. Me lembrou das inúmeras vezes que parei os
espetáculos de teatro do Caçuá ali mesmo para pedir para a dondoca desligar o
celular no meio da peça! Depois não gostam quando falamos da ignorância e mal
educação em Vdc Lost! Eu fico puto com isso! Mas a plateia de ontem era do
artista. Tava na sua mão! Cantou as músicas dele e dançou com ele no final.
Show vivo, sintonia! Aplausos!
Que esta casa volte a ser um local legitimamente cultural e
destinado a todxs. Que a arte nos potencialize além da catarse, nos aponte reflexões,
melhore nosso humor e dia a dia, nos delicie com momentos epifânicos como
estes.
Achiles meu lindo, que os orixás continuem guiando seus
caminhos e conserve esta simplicidade e força! Te desejo o melhor e pegue as
estradas, meu nego! A Bahia é pequena pra tu. A música, a dança, as artes visuais, e o teatro devem chegar a um público maior para cumprir seu papel.
Do novo fã e chato teatral com ranço de Vdc Lost. MB
Bora encher o Camillo com teatro e arte boa e da terra! Caçuá
20 anos! As oficinas voltam! Se liguem mongoiós! Axé, evoé e merda! Só a arte salva!
PS: A produção do show foi uma realização do Coletivo Suíça Bahiana.
PS: A produção do show foi uma realização do Coletivo Suíça Bahiana.