Terminou neste fim de semana o
Curso de Extensão HomoEros promovido pelo Coletivo do Anatomia do Fauno e pela
SP Escola de Teatro.
Programação do Curso de Extensão Homo Eros. |
Durante doze encontros,
realizados entre os meses de abril e maio, muitas leituras, debates, mesas sobre
o universo da diversidade, do gênero, da performance, teatro, literatura, arte,
cinema e cultura queer e gay, permearam as reuniões, buscando reflexões e pontos
de apoio ou linhas de fuga para partidas e proposições que desenhassem um novo
cenário ou cena a ser investida e exposta mais e mais!
Danilo Patzdorf e sua bomba relógio de gozo. |
A programação foi extensa e com
um público bastante diverso, de palestrantes a participantes, para ser
desdobrada para outros tantos encontros e debates, passando pelo relógio bomba de
Danilo Patzdorf – “Um mapeamento da teoria queer”; à aula rememorada no
discurso e prática do professor e diretor do TUSP, Ferdinando Martins – “Teatro
e Sexualidade em São Paulo”. Seguimos com Alexandre Rabelo, dramatugista do “Anatomia”,
com “Corpo, imagem e som na construção narrativa” já introduzido anteriormente,
para encontrar com Rafael Guerche (diretor de “Meninos também amam”), Paulo
Arcuri (diretor de “Dizer e não pedir segredo” e “Orgia”) e um encontro de 19
anos depois do “Assassinato do Anão do Caralho Grande” 1997-1998, dirigido por
Marco Antônio Rodrigues, com direção musical premiada de Dagoberto Feliz (diretor
de “Cabaré Falocrático”) nessa “Homoafetividade e Homoerotismo no Teatro,
buscando as peças ”irmãs” num possível catálogo de peças queer, de diversidade
ou gênero e afins na capital paulistana.
Prof. Ferdinando Martins – “Teatro e Sexualidade em São Paulo." |
“Homoafetividade e Homoerotismo no Teatro." |
Continuando com a extensão nos
transformamos com “A representação de transgêneros no teatro” com a fala
transmutada de Dodi Leal, seguida de Luiz Fernando Lubi (Grupo XIX de Teatro) e
Cecília Schucman ((Im)Pertinente Trupe ConTrastes- Godofredo & Alice) respingando
na produção fora de São Paulo como em Recife e Salvador nas minhas conexões
imediatas com minhas labutas e andanças com o teatro de grupo no interior da Bahia ou em Jequié,
no trabalho do Grupo de Pesquisa Gap-Motus - Grupo de Ações Performativas Motus, do querido amigo Aroldo Fernandes,
reverberando outros nichos de ação fora do umbigo paulistano e carioca ao qual frequentemente
se fala.
Alexandre Rabelo mediando a mesa "A representação de transgêneros no teatro" com Dodi Leal, Luiz Fernando Lubi e Cecília Schucman. |
E entre tantas “Cartografias do
cinema LGBT” com Lufe Steffen, Rodrigo Gerace, perdemos Christian Petermann
numa despedida sem roteiro. Vestimos utopias e tiramos os figurinos com os
Profissionais da Anatomia do Fauno e descontruímos “o corpo para além gêneros”
com o Fauno Mor Marcelo D’Avilla, culminando numa performance prática dentro e
fora da SP Escola e na Praça Roosevelt.
Depois de tanta teoria, o corpo
pedia ação e movimento, pois resignificar o que se troca se torna essencial em
tempos de ressarcimentos ideológicos e golpes políticos num país ainda tão
afoito ao diferente, ao que foge à regra e ao padrão.
Dia de Vestir Utopias com a Equipe Visual e de Arte de Anatomia do Fauno. |
Pensamos no espaço da Rua como
mote e criamos situações, roteiros e cenas para uma possível dramaturgia em espaços
urbanos onde o que permeava o universo de cada participante, em algum momento,
tomasse forma e vida, performando, filmando, registrando de alguma forma, além
dos seus extratos e memória. Marcelo Denny trouxe seu livrão ambiência de
imagens que estimulou a obra do fauno, deleitando-nos com centenas de imagens e
o requinte de um artista visual para a cena da performance-espetáculo em
cartaz.
A atitude do Coletivo do Anatomia
em propor um desdobramento da obra, neste Curso de Extensão, não como mera contrapartida
de sua temporada,(já falei sobre a potencia desse trabalho aqui no blog:
http://marcelobenigno.blogspot.com.br/2016/04/sem-teorizar-anatomia-do-fauno-uma_16.html) e o acolhimento da SP Escola de Teatro são plausíveis e
necessárias!
Vivemos num lugar onde pouco se discute os processos criativos das obras artísticas (ou não), e onde se pouco estuda e pesquisa a fundo para contextualizar a prática de cada um. Em se tratando da área das artes da cena e performativas, ligadas as áreas do conhecimento, tudo se amplia e qualquer um bem-aventurado se torna um expert da noite pro dia, se intitulando “artista”, “performer” ou “artista pesquisador”. Como se diz lá na Bahia, tem que comer muito arroz com feijão para se tornar um verdadeiro profissional das artes ou "artista" nesse país e sofrer ainda muitos bons bocados e anos de janela para algum mérito conquistado com muito suor e sangue. Há um excesso de teoria sem prática que tenta subjugar vivencias ou uma normose acadêmica afetada de meritocracia produtivista que não serve pra nada! Falta engajamento político, artístico e social e numa atual crise, onde performar e atuar na rua, expondo sua opinião pode custar uma perseguição e até sua própria integridade, viver e performar tornou-se algo com um preço bastante caro e perigoso. Quem está disposto a pagar?! Num país que se diz laico, de liberdade de opinião manipulada, arte cassada, Ministério da Cultura extinto, o que se torna importante e urgente, hoje?!
Vivemos num lugar onde pouco se discute os processos criativos das obras artísticas (ou não), e onde se pouco estuda e pesquisa a fundo para contextualizar a prática de cada um. Em se tratando da área das artes da cena e performativas, ligadas as áreas do conhecimento, tudo se amplia e qualquer um bem-aventurado se torna um expert da noite pro dia, se intitulando “artista”, “performer” ou “artista pesquisador”. Como se diz lá na Bahia, tem que comer muito arroz com feijão para se tornar um verdadeiro profissional das artes ou "artista" nesse país e sofrer ainda muitos bons bocados e anos de janela para algum mérito conquistado com muito suor e sangue. Há um excesso de teoria sem prática que tenta subjugar vivencias ou uma normose acadêmica afetada de meritocracia produtivista que não serve pra nada! Falta engajamento político, artístico e social e numa atual crise, onde performar e atuar na rua, expondo sua opinião pode custar uma perseguição e até sua própria integridade, viver e performar tornou-se algo com um preço bastante caro e perigoso. Quem está disposto a pagar?! Num país que se diz laico, de liberdade de opinião manipulada, arte cassada, Ministério da Cultura extinto, o que se torna importante e urgente, hoje?!
"Cartografias do Cinema LGBT." Marcelo Denny, Alexandre Rabelo, Christian Petermann, Lufe Steffen. Despedida sem roteiro de Petermann. |
A provocação dada no Curso de
Extensão é para somarmos os possíveis ecos para que a discussão e ações não se
estanquem e saiam das paredes das salas de ensaio, das universidades e escolas,
das teses mofadas em arquivos para a prática das ruas, dos projetos e outros
coletivos espalhados por este Brasil, que é tão grande, tão diferente e igual.
Material de Divulgação da Temporada. |
A violência brutal que sofre
diariamente pessoas trans, gays, lésbicas, mulheres e todas as minorias e todxs
aquelxs que não se enquadram nesse padrão heteronormativo judaico cristão brasileiro
é assustadora, e não é cena, assim como a crescente onda de conservadorismo e ataque
ao que se é diferente da opinião e costumes alheios. Por isso tornar a
performance, o teatro e a arte mais reais e presentes na vida das pessoas, transformando-as, torna se imprescindível!!
Antes que tudo isso sucumba e
acabe com as nossas forças e ideais, gostaria de agradecer a Marcelo Denny,
Marcelo D’Avilla e a Alexandre Rabelo (que segurou o tranco o tempo todo), a meus
colegxs de encontros, aos participantes das mesas e a SP Escola de Teatro por
essa troca incrível, potente e necessária. Precisamos instrumentalizar o nosso
discurso de conhecimento e prática! Precisamos acreditar na força da arte, da cultura e da educação! Precisamos não parar!
Espero que possamos ainda
continuar nessa troca, e que a Anatomia do Fauno e esta discussão voltem logo a
cartaz para dar voz a tantos corpos e discursos de urgente performance e ação!
Meu abraço e xero a todxs!
Axé, Evoé e merda! Só a arte
salva!
“Armei-me contra a justiça.
Fugi. Ó bruxas, ó miséria, ó ódio, meu tesouro foi confiado
a vocês!
Consegui apagar do meu espírito toda a esperança
humana. Para estrangular toda alegria, dei o bote surdo da fera. Chamei os
carrascos para, morrendo, morder a coronha de seus fuzis. Chamei os flagelos
para sufocar-me com a areia, o sangue. A desgraça foi meu Deus. Deitei na lama.
Sequei no ar do crime. E preguei boas peças à loucura.
E a primavera me trouxe o medonho riso do idiota.
E ultimamente, estando quase ao ponto de dar a minha
última nota falsa!, pensei procurar a chave do antigo festim, onde
reencontrarei talvez o apetite.
A caridade é esta chave. – Esta inspiração prova que
sonhei.”
“Uma
Temporada no Inferno”, Capt 1 – Uma Estadia no Inferno, Arthur Rimbaud.
PS: As fotos nesta postagem foram compartilhadas das redes sociais dos amigos e participantes do Laboratório HomoEros.
"Mundo adentro vida afora" é o título da obra do dramaturgo e escritor Antonio Bivar. http://www.lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=638453&ID=526490
http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=915535
PS: As fotos nesta postagem foram compartilhadas das redes sociais dos amigos e participantes do Laboratório HomoEros.
"Mundo adentro vida afora" é o título da obra do dramaturgo e escritor Antonio Bivar. http://www.lpm.com.br/site/default.asp?Template=../livros/layout_produto.asp&CategoriaID=638453&ID=526490
http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=948848&SubsecaoID=0&Template=../livros/layout_autor.asp&AutorID=915535