GUARDAR O QUÊ?!
ESCOLA MAIS E MAIS EDUCAÇÃO-
POSSIBILIDADES REAIS NA CONSTRUÇÃO DE
UMA EXPERIÊNCIA TRANSFORMADORA NOS CAMINHOS DA ARTE-EDUCAÇÃO
Por Marcelo Benigno
Fui convidado para participar da Formação do Projeto Escola
Mais e Programa Mais Educação que fazem parte dos projetos do Núcleo Pedagógico
da Secretaria Municipal de Educação de Vitória da Conquista, hoje coordenado
por Núbia Nadja Pereira, nesta nova gestão que começa o ano esparramando boas
novas e prometendo muitas surpresas.
Estava em São Paulo quando Sandra, conterrânea do Guigó, parceira
de muitas caminhadas com a Ceb´s e com o teatro na zona rural de Conquista, fez
o contato sobre o interesse da minha participação e disse que o evento da
Formação seria realizado entre os dias 25 a 27 de fevereiro (de terça feira a
quinta-feira). O evento teria uma programação entre palestras e oficinas
voltadas aos facilitadores e educadores dos Projetos Escola Mais e Mais
Educação, que trabalham diretamente com letramento, atividades físicas e
lúdicas e com a arte em suas ementas e ações, o que imediatamente ressoou em
mim, dando mais intimidade e segurança no que propunha fazer, performar e
questionar.
Então decidido, fiquei responsável pelas apresentações e
intervenções artísticas durante
o evento.
ESPERANDO GODOT E O GIRASSOL: CAMINHOS DO SOL!
Logo na quarta-feira cedinho fui conferir o espaço do evento
e não teve tempo para descanso!
A Formação aconteceu no prédio do antigo Instituto São Tarcisio, hoje Faculdade São Agostinho, no bairro Recreio.Na quadra esportiva foi montado um palco para as apresentações e palestras, enquanto as oficinas eram realizadas nas salas do prédio.
O palco estava armado quase num formato italiano, tendo público também nas arquibancadas, mas logo quando entrei no prédio, minha alma de artista de rua me jogou para o espaço de entrada, disposto em “u” com várias possibilidades de resignificações e visões para este momento de apreciação.
A Formação aconteceu no prédio do antigo Instituto São Tarcisio, hoje Faculdade São Agostinho, no bairro Recreio.Na quadra esportiva foi montado um palco para as apresentações e palestras, enquanto as oficinas eram realizadas nas salas do prédio.
O palco estava armado quase num formato italiano, tendo público também nas arquibancadas, mas logo quando entrei no prédio, minha alma de artista de rua me jogou para o espaço de entrada, disposto em “u” com várias possibilidades de resignificações e visões para este momento de apreciação.
Não deu outra! Abri a tarde com um fragmento do texto:
Esperando Godot, de Samuel Becket, datado de 1949, tal texto e tal autor
conhecidos pelas reflexões existencialistas sempre a nos questionar como
pessoas, educadores, artistas ou cidadãos...
Esperar Godot ou ir em busca do que queremos?!
Esperar Godot ou ir em busca do que queremos?!
Para completar o sentido da intervenção, fiquei o restante da
tarde distribuindo sementes de girassol e rememorando a alguns, que chegaram
atrasados e não viram a cena, qual o significado da mesma, frente a simbologia
da flor do girassol.
O que nos mantêm vivos e nos inspira?
Ir em busca ou esperar pelo sol?!
Se uma planta é capaz de girar no seu próprio eixo em busca do sol, o que nós somos capazes de fazer?
Ficar esperando Godot ou ir em busca de possibilidades de crescimento, de encontros alegres e transformação?!
O que nos mantêm vivos e nos inspira?
Ir em busca ou esperar pelo sol?!
Se uma planta é capaz de girar no seu próprio eixo em busca do sol, o que nós somos capazes de fazer?
Ficar esperando Godot ou ir em busca de possibilidades de crescimento, de encontros alegres e transformação?!
A intervenção por mais simples que pareça reverberou nos
presentes, e não é novidade, no Brasil outras similares viraram moda, desde
desconhecidos que oferecem flores, abraços ou lêem carta de amor para transeuntes
numa via pública, aos Flash Mobss, mais
elaborados e modernos.
Neste evento, as reações foram as mais variadas: desde o educador
que se recusou a receber a semente de girassol, negando de todas as formas, apesar
da minha insistência e contextualizações, às pessoas emocionadas que agradeceram
e religaram imediatamente aquela energia.
Fiquei pensando nestas questões todas, muito sérias e graves,
ligadas a formação de um público para as artes ou na formação de profissionais
que trabalham diretamente com a arte, cultura, esporte e lazer, o que me
lembrou de imediato o mestre Gabriel Perissé:
Precisamos de criatividade autêntica
para recriar a criatividade. Precisamos de uma didática criativa, em
contraponto com uma didática não–didática. Um primeiro passo é repensar,
reavaliar, (e revalidar) o modo como ensinamos arte. O passo seguinte será
pensar no próprio ato de ensinar como ato artístico. É inconcebível, por
princípio um professor ministrar arte-educação e ser ele mesmo esteticamente
imaturo, alheio a uma compreensão abrangente da arte, carente de uma
experiência apaixonada da fruição artística, ou até mesmo distante da prática
artística (em alguma medida). Perissé
TRÊS PERSONAGENS EM BUSCA DE UM ATUADOR!
Quinta feira ensolarada! O desafio do dia era fazer três
intervenções para aproveitar o desejo estimulado de uma proposta quase
triangular: contextualização histórica; fazer artístico; apreciação
artística. Salve Ana Mae!
Depois de todas as reflexões e reações do dia anterior, de ter sentido o público, suas reações e necessidades, decidi aprofundar na reflexão sobre outras temáticas também importantes.
Depois de todas as reflexões e reações do dia anterior, de ter sentido o público, suas reações e necessidades, decidi aprofundar na reflexão sobre outras temáticas também importantes.
Escolhi para começar o dia “Pessoas”, um trabalho que me acompanha desde os tempos que cursava
Letras, com textos de Fernando Pessoa e seus heterônimos, onde um personagem
está em busca de caminhos a seguir, frente aos desafios, dúvidas e
questionamentos desse homem contemporâneo. Oposto ao Godot, da intervenção
anterior, esta personagem é mais realista e se depara na questão não de esperar,
mas de seguir ou parar.
Dessa vez, o público já tinha resignificado o espaço da
entrada como espaço de apreciação, o que tornou a apresentação mais forte.
A opção por não usar nenhum recurso tecnológico ou mecânico
nessa intervenção foi justamente para reforçar o que é primordial para o teatro
a meu ver: o texto, o trabalho de ator e o público.
Naquela encenação nova, configurada
num banho rápido do personagem (podia ter estourado mais a água) ela, apontou o
caminho a seguir, respingando numa recepção mais fluída e reverberada de forma
mais intensa por todos. Signos,
simulacros, dramaturgia, elementos do teatro e da cena estudados cautelosamente
numa constante resignificação das artes e do texto- poesia.
Salve Fernando
Pessoa!
Resposta boa do público de educadores!
Agora secar do banho, trocar de roupa, descer ao centro da cidade para fazer a
barba; sai o masculino para entrar o feminino em cena, comprar cola para cílios
(não achei em Conquista, pode isso?!), adequar o figurino, assumir de vez a
discussão de gênero, arte, profissional e educador.
Entra em cena então, Madame Bovary!
Essa
personagem faz parte da trajetória em minha carreira como artista e
profissional dos palcos, das ruas e das salas de aula, assim como, também,
aquele espaço onde a Formação estava sendo realizada.
Para que o sentido se complete é necessário
fazer um flashback rápido, exatamente para 1999, nesse mesmo espaço que foi
realizada a Formação, só como sede do Instituto São Tarcísio.
Há exatamente 15 anos, Núbia Nadja, então Coordenadora Pedagógico do IST e hoje atual Coordenadora Geral do Núcleo Pedagógico da SMED, me faz um convite tentador: assumir a cadeira de artes do colégio.
Tal cadeira já tinha sido ocupada por nomes importantes no cenário artístico e cultural da Bahia e de profissionais de igual peso e suas múltiplas atuações, a saber; Ayrson Heraclito: artes visuais e performance; Mônica Medina: artes visuais e cinema; Sonia Leite: artes visuais e artes cênicas, e agora se apresentava a mim pelas artes cênicas e cultura popular.
Há exatamente 15 anos, Núbia Nadja, então Coordenadora Pedagógico do IST e hoje atual Coordenadora Geral do Núcleo Pedagógico da SMED, me faz um convite tentador: assumir a cadeira de artes do colégio.
Tal cadeira já tinha sido ocupada por nomes importantes no cenário artístico e cultural da Bahia e de profissionais de igual peso e suas múltiplas atuações, a saber; Ayrson Heraclito: artes visuais e performance; Mônica Medina: artes visuais e cinema; Sonia Leite: artes visuais e artes cênicas, e agora se apresentava a mim pelas artes cênicas e cultura popular.
Nesse convite, Núbia se mostrava preocupada
não só com a formação educacional dos alunos mais a formação artística-cultural desses estudantes, pois de certa forma, numa escola particular de
conhecida fama e prestígio a inserção desse educando e sua compreensão de arte
e cultura, a nosso ver, eram fundamentais, não só pautada na apreciação e em
eventos, pois com poder aquisitivo alto como o deles, isso não seria nenhum
problema. Assim, falei com a coordenadora arrojada que toparia o desafio, mas que
ela teria que me dar carta branca para tal e assumir as minhas loucuras pela
arte.
“Sou
um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?” F.P
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?” F.P
Já dizia o poeta português na apresentação molhada. Ela
então aceitou! Disse- lhe que trabalharia com uma estratégia metodológica do
drama conhecida por professor-personagem:
A origem do teacher in role no drama inglês está diretamente relacionado ao
trabalho de sua criadora Dorothy Heathcote, que iniciou sua carreira de
professora em 1950, em Newcastle upon Tyne, Inglaterra, aos 24 anos.
Influenciada pela experiência como aluna de dança de Rudolf Laban e com aluna
de teatro de EsméChurch, Heathcote introduziu uma série de inovações técnicas para
o uso do drama como base para o currículo, cuja principal delas é o
procedimento do teacher in role. (Cabral,
2006)
Segundo Cabral: A expressão teacher in role foi traduzida para o português por Beatriz Cabral
como professor-personagem e definida como uma estratégia na qual o professor
assume personagens durante o processo de construção de uma narrativa cênica
pelos alunos. (Cabral, 2006, p.19-20).
Assim criei e revisitei cerca de 10 personagens, dos mais variados
status, para lecionar a disciplina
Artes, no Instituto São Tarcisio, em 1999. Foi um desafio apaixonante e
marcante para mim, acordar às cinco da manhã para se maquiar e se caracterizar,
tomar café na rua de personagem, brincar com os taxistas vizinhos já
incorporando a persona, ir a pé caracterizado quando o personagem pedia, voltar
para casa montado...
Esta proposta mexeu com toda a escola de uma forma mágica-
que só a arte consegue - muitos alunos falavam pelos corredores: Do que será
que o “doido” vem hoje?!
O adjetivo doido tem vários significados plausíveis para ilustrar
tal imagem, mas preferir colocar aqui seus sinônimos: alheado, alienado, encantado, entusiasta, exaltado, extravagante, furioso, louco, temerário, tresloucado e varrido.
Eles estavam mais do que certos!
Sempre fui um louco varrido e encantado pelas artes e assumir essa proposta exigiu do entusiasta aqui uma produção e um novo desafio diário a cada aula-apreciação, numa tentativa de reanimar e contextualizar este fazer-experiência em corpo vivo na sala de aula, reconfigurar o espaço, os alunos, o professor... nesse momento que cada vez mais tem se tornado monótono, cansativo, enfadonho, obrigatório, nada doido. E por falar em experiência (e não canso de rezá-lo e invocá-lo), meu santo espanhol mais devotado e arretado, Larrosa nos alerta:
Eles estavam mais do que certos!
Sempre fui um louco varrido e encantado pelas artes e assumir essa proposta exigiu do entusiasta aqui uma produção e um novo desafio diário a cada aula-apreciação, numa tentativa de reanimar e contextualizar este fazer-experiência em corpo vivo na sala de aula, reconfigurar o espaço, os alunos, o professor... nesse momento que cada vez mais tem se tornado monótono, cansativo, enfadonho, obrigatório, nada doido. E por falar em experiência (e não canso de rezá-lo e invocá-lo), meu santo espanhol mais devotado e arretado, Larrosa nos alerta:
A experiência é o que nos
passa, o que nos acontece, o que nos toca(...). A informação não é experiencia.
E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o
contrário da experiência, quase uma antiexperiência. Por isso a ênfase contemporânea
na informação, em estar informado, e toda a retórica destinada a constituirmos
como sujeitos informantes e informados; a informação não faz outra coisa que
cancelar nossas possibilidades de expreriência. O
sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação,
o que mais o preocupa é não ter bastante informação; cada vez sabe mais, cada
vez está melhor informado,porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber
(mas saber não no sentido de “sabedoria”,mas no sentido de “estar informado”),
o que consegue é que nada lhe aconteça. A primeira coisa que gostaria de dizer
sobre a experiência é que é necessário separá-la da informação. E o que
gostaria de dizer sobre o saber de experiência é que é necessário
separá-lo de saber coisas, tal como se sabe quando se tem informação sobre as
coisas, quando se está informado. ( BONDIA, 2002, p. 21 )
Pra não prolongar essa história, que sem dúvidas tem muito a
acrescentar, Madame Bovary entra em cena numa aula no IST para falar sobre a Ópera
e o Barroco.
Na estratégia do teacher in role o professor não se coloca em nenhum momento, quem conduz a aula ou o encontro é a personagem, do seu ponto de vista, da sua vivencia e história.
O caso com Madame Bovary tem um dado peculiar: nessa aula no IST, um aluno de sétima série, se não me engano, saiu da sala e foi reclamar com Núbia que não iria assistir à aula, pois tinha um professor vestido de mulher na sala.
Na estratégia do teacher in role o professor não se coloca em nenhum momento, quem conduz a aula ou o encontro é a personagem, do seu ponto de vista, da sua vivencia e história.
O caso com Madame Bovary tem um dado peculiar: nessa aula no IST, um aluno de sétima série, se não me engano, saiu da sala e foi reclamar com Núbia que não iria assistir à aula, pois tinha um professor vestido de mulher na sala.
No final do dia, a
coordenadora sábia me chamou, explicou o ocorrido e disse:
- Sábado tem reunião de
pais e mestres aqui na escola. Traga Madame Bovary!
A atitude da coordenadora além de surpreendente foi a mais
acertada.
Convenhamos que ela podia usar de todo o seu poder para reprimir, podar, adequar, pedagogizar o professor de artes ali, mas fez exatamente o que prometera antes: foi parceira do professor na sua proposta!
Entrei então, aliás, Madame Bovary entrou na reunião de pais e mestres, acompanhada pelo músico Diego Silveira, solfejando falsetes e com o discurso-arte no corpo e na voz!
Parte da cena-discurso que fiz na reunião com os pais do IST, apresentei aos participantes da Formação, enquanto me descaracterizava da persona de época:
Convenhamos que ela podia usar de todo o seu poder para reprimir, podar, adequar, pedagogizar o professor de artes ali, mas fez exatamente o que prometera antes: foi parceira do professor na sua proposta!
Entrei então, aliás, Madame Bovary entrou na reunião de pais e mestres, acompanhada pelo músico Diego Silveira, solfejando falsetes e com o discurso-arte no corpo e na voz!
Parte da cena-discurso que fiz na reunião com os pais do IST, apresentei aos participantes da Formação, enquanto me descaracterizava da persona de época:
- O professor de matemática usa aos números e a fórmulas; o
professor de português a gramática e as normas; o de história das datas e acontecimentos
históricos; (...) e o que usa o professor de artes?!
Foi revigorante ver incorporado no meu discurso-vida a
resposta dos pais e da platéia atual sobre questões tão importantes e ainda
atuais.
Qual o papel do professor de artes ou do arte-educador na sala de aula?
Que demandas, materiais, instrumentos, capacidades ele usa e domina?
Qual a função e “utilidade” desse ensino e experiência para os estudantes e para a vida?
Qual o papel do professor de artes ou do arte-educador na sala de aula?
Que demandas, materiais, instrumentos, capacidades ele usa e domina?
Qual a função e “utilidade” desse ensino e experiência para os estudantes e para a vida?
É o que sempre digo, a prática tem que está emaranhada em
você antes de tudo, de qualquer divagação teórica forçada e demasiadamente
academicista, somos nós o discurso vida, do que acreditamos e pregamos!
Reviver esta memória de Bovary naquele espaço, quinze anos
depois, e com Núbia novamente para reforçar sobre o papel do professor de arte
e da arte na vida das pessoas, foi indescritível e mágico!
Vai entender o poder da arte e a espiral da vida?! Mistério...
Vai entender o poder da arte e a espiral da vida?! Mistério...
BRINCANTE, CHICÓ,
PALHAÇO ATUANTE. BOBO, NÃO!
Após a efêmera e lírica aparição de Bovary, voltei para a
sala-camarim para trazer o último personagem do dia: um brincante, uma óbvia
influencia popular do clown ancestral e do caipira que corre, em meus extratos
e veias.
Ele, o brincante, mais gaiato que eu, trouxe a brincadeira à tona, dando pitaco nos educadores que saíram no meio de uma palestra para pegar o lanche, alvoroçados: Adoidas onças- disse o palhaço, ovacionado, em seguida pelos presentes.
Após a gaiatice chicoense, ele fez sua brincadeira e montou com a platéia atuante uma frase emblemática:
Ele, o brincante, mais gaiato que eu, trouxe a brincadeira à tona, dando pitaco nos educadores que saíram no meio de uma palestra para pegar o lanche, alvoroçados: Adoidas onças- disse o palhaço, ovacionado, em seguida pelos presentes.
Após a gaiatice chicoense, ele fez sua brincadeira e montou com a platéia atuante uma frase emblemática:
TODO
EDUCADOR É UM ARTISTA? ! ... .
O Procedimento desse jogo de palavras era formar com o
público uma ordem possível para as palavras e frases e as óbvias questões que
implicam tais assertivas.
Dar voz a quem realmente coloca a mão na massa e está na labuta.
Foram distribuídas, ao todo, oito placas amarelas com as palavras e sinais citados acima, como se vê na fotografia abaixo.
Dar voz a quem realmente coloca a mão na massa e está na labuta.
Foram distribuídas, ao todo, oito placas amarelas com as palavras e sinais citados acima, como se vê na fotografia abaixo.
Como o processo educacional e artístico se dá no coletivo é
cada vez mais urgente deixar de ser platéia para ser atuador, assim o painel
foi construído com a participação de todos (as)!
No corpo dos educadores em cena, na frente do palco, um retrato diversificado de quem trabalha com arte nestes dois projetos; desde o consagrado bailarino e coreógrafo conquistense Chefinho Santos, ao ator e agora circense de tecido acrobático Téofilo Gobira, sem esquecer da linda moça negra de torço na cabeça, numa referencia a nossa ancestralidade africana e mitológica.
Uma diversidade de tons, gêneros, credos, etnias que fazem parte desse processo de experiências e aprendizagem e não devem ser nunca ignorados, calados e não abordados nessas vivências! Esses são temas da ordem do dia, nunca secundários! Afinal, o que mais ficará em nós?!
No corpo dos educadores em cena, na frente do palco, um retrato diversificado de quem trabalha com arte nestes dois projetos; desde o consagrado bailarino e coreógrafo conquistense Chefinho Santos, ao ator e agora circense de tecido acrobático Téofilo Gobira, sem esquecer da linda moça negra de torço na cabeça, numa referencia a nossa ancestralidade africana e mitológica.
Uma diversidade de tons, gêneros, credos, etnias que fazem parte desse processo de experiências e aprendizagem e não devem ser nunca ignorados, calados e não abordados nessas vivências! Esses são temas da ordem do dia, nunca secundários! Afinal, o que mais ficará em nós?!
O conhecimento e a experiência estética devem ser construídos
juntos e não impostos. Tal informação teve eco na reprodução de uma música
final para o evento, a velha padronização que ainda não nos escapa, mas que
ficou evidente no resultado.
Essa padronização ou clichês sobre a arte e educação são demais
cansativos, além de estar fora de moda. Clichê previsível de encerramento de evento
faz o Criança Esperança com uma produção
invejável, mas que não é o nosso caso! Sair do geral para o específico, do
universal para o local, dos valores regionais, sobretudo, mudar os padrões,
brincar com as referencias, ficar doido é mais a nossa cara!
FIM OU COMEÇO?!
O evento se encerra com as falas e agradecimentos a todos que
participaram e contribuíram para sua a realização.
Ficou nítido o sucesso e satisfação nos comentários dos
participantes sobre a Formação, dos que foram falados e dos que ouvi da platéia
durante as intervenções.
Na sexta feira pela manhã, ao conversar com Núbia, numa
prévia de avaliação vi o quanto grande é o desafio dessa coordenação para esse
ano, sobretudo, com a capacitação de educadores que trabalham com arte, lazer,
letramento e atividades físicas para um novo olhar sobre a sua importância na
vida desses educadores, educandos e comunidade, além de tantas demandas que a
Secretaria tem.
Vi que a minha loucura e doidice religa-se de imediato com a da coordenadora, também doida, por acreditar na possibilidade real dessa experiência de arte nessa cidade, nessas escolas de zona urbana e rural, nesses facilitadores, educadores, professores, equipe e a comunidade.
Vi que a minha loucura e doidice religa-se de imediato com a da coordenadora, também doida, por acreditar na possibilidade real dessa experiência de arte nessa cidade, nessas escolas de zona urbana e rural, nesses facilitadores, educadores, professores, equipe e a comunidade.
A coordenadora encerra a conversa citando um poema do qual
diz que devemos guardar nos outros aquilo que acreditamos, não em estantes ou
cofres, guardar essa experiência viva da arte, do afeto, do sensível, do teatro,
nos extratos dos que religam conosco, não em armários fechados ou em teses e
dissertações que não servem para nada.
Guardar é iluminar ou ser por ela iluminado!
Dessa experiência toda de três dias volto para casa
diferente, afinal, cada experiência deve nos modificar! Que possamos ser doidos
guardadores de rebanhos, histórias, arte, vida, lições, afeto nos corações dos
nossos educandos, dos nossos verdadeiros amigos, da nossa família, dos que
queremos bem, da nossa comunidade.
Um agradecimento especial a todos que estiveram presentes
nessa Formação, que religaram comigo nessa troca, ou na corrida da produção, ou
no olhar, na intenção! Foi lindo!
Salvem os girassóis de Godot ou Van Gogh nesse prelúdio de um ano por vir
cheio de desafios, arte e trabalho. Semeemos!
PS: As fotos do evento são créditos de Elisangela Aguiar e de Jéssica Marques.
Obrigado queridas, por guardarem esta memória!
E
sobre as referencias bibliográficas citadas e o formato dessa escrita,
não se preocupem, sintam a leitura sem amarras e preconceitos! Quando
formatar o texto para um artigo disponibilizarei todas, elas estão
guardadas em mim, se alguém se interessar com urgência, me procure em
corpo e alma para religarmos. Não quis interromper o fluxo da escrita
com formatações e revisões agora. (...) Esta é uma primeira versão desta
escrita! Meu processo de escrita é assim mesmo, me conheço e respeito
meu processo. Não quis demorar para não esquecer, e este texto aqui não
vai pontuar em nenhuma publicação ou quallis de rendimento
acadêmico.(...) Prefiro desenquadrar a enquadrar!
Abaixo, o texto em questão, do poeta Antônio Cícero e link com interpretação de Fernanda Montenegro.
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.